Nas últimas três décadas, a AIDS uniu a comunidade internacional de forma inédita para crises de saúde. A doença estimulou grupos tradicionais a lutar pelos direitos humanos de algumas das populações mais vulneráveis do mundo. A AIDS gerou novos níveis de solidariedade entre o Norte e o Sul, e inspirou inovações médicas.
Agora, o mundo chegou a uma encruzilhada. O número de pessoas infectadas pelo HIV e que morrem está diminuindo, mas não na velocidade suficiente. Mesmo com a quantidade enorme de necessidades não atendidas, os recursos necessários para impulsionar o progresso diminuíram em 1 bilhão de dólares em 2018. Hoje, há mais pessoas vivendo com HIV do que em qualquer momento da história da epidemia. São cerca de 38 milhões de pessoas, o que torna a AIDS uma das maiores ameaças de saúde e desenvolvimento do nosso tempo.
Dar uma resposta ao HIV é importante para os negócios. Ao contrário da maioria das outras crises de saúde, o HIV afeta amplamente as pessoas no auge de suas vidas. Este não é apenas um alto custo para a sociedade, mas também uma barreira para o crescimento econômico. Nove em cada 10 pessoas vivendo com HIV são adultos em idade mais produtiva. Nos países mais afetados, o HIV prejudica diretamente os mercados, investimentos, serviços e educação.
Sem os devidos cuidados e apoio, as pessoas que vivem com HIV podem ficar incapacitadas para o trabalho, precisar de longos períodos de folga e, muitas vezes, arcar com gastos significantes de assistência à saúde com dinheiro do próprio bolso. As mortes relacionadas à AIDS são uma trágica perda de vidas humanas, que afeta os meios de subsistência das famílias e reduz a produtividade das empresas. A epidemia retarda o crescimento econômico e ameaça o futuro de trabalhadores e empregadores.
No entanto, quando empresas que funcionam em países severamente afetados pelo HIV assumem um papel ativo e visível na resposta à AIDS, elas observam melhorias na produtividade, no moral e na retenção de funcionários.
Fazer parte de uma resposta multissetorial eficaz à AIDS gera boa vontade e demonstra os valores e o compromisso de uma empresa com a cidadania corporativa e o bem-estar de seus funcionários, clientes e comunidades. É necessário que as empresas tenham visão de futuro para ajudar no desenvolvimento de soluções globais e no gerenciamento de riscos, abordando o HIV como uma questão de saúde e bem-estar no local de trabalho.
As evidências sugerem que, para muitas empresas, os investimentos em programas que previnem a infecção pelo HIV e fornecem tratamento para os funcionários vivendo com HIV são lucrativos.
Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) proporcionam um importante marco, por meio do qual as empresas podem trabalhar em conjunto com fornecedores, clientes, comunidades e outras partes envolvidas para acabar com a AIDS como uma ameaça à saúde pública até 2030. Para alcançar esse objetivo, é necessário realizar ações interligadas em desafios que vão desde acesso à saúde (ODS 3), igualdade de gênero (ODS 5), fim da discriminação (ODS 10) e boa governança (ODS 16), até parcerias para o desenvolvimento (ODS 17), tendo os direitos humanos como um fator transversal.
Os negócios só podem ser bem-sucedidos se as sociedades estiverem saudáveis. Os líderes de sucesso do setor privado reconhecem que o bem-estar e a segurança das comunidades a que eles atendem são essenciais para seus futuros, que são compartilhados. Da mesma forma, não podemos acabar com a AIDS sem a participação ativa do setor privado: inovações comerciais em produtos e serviços; relacionamento com funcionários, consumidores e elaboradores de políticas; recursos essenciais em logística; análise de dados e marketing; recursos financeiros e humanos. Tudo isso pode ajudar a fechar lacunas nos programas de prevenção, tratamento e testagem de HIV que têm financiamento público.
Governos, organizações intergovernamentais, sociedade civil e empresas possuem recursos e capacidades importantes, únicos e complementares para contribuir com a resposta global à AIDS. Quando diferentes setores conseguem combinar esses ativos, o potencial para um grande impacto aumenta significativamente.
O UNAIDS e o GBCHealth estão pedindo às empresas que se unam à resposta à AIDS e reforcem a colaboração intersetorial, capaz de salvar vidas. Junte-se a nós na realização de uma oportunidade histórica de encerrar uma das principais crises de saúde dos últimos 100 anos.
Por Gunilla Carlsson, diretora executiva do UNAIDS, e Nancy Wildfeir-Field, presidente do GBCHealth