Já se passaram 25 anos desde a inovadora Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento, realizada no Cairo, Egito, em 1994. Desde então, houve um progresso significativo na área da saúde sexual e reprodutiva e dos direitos das mulheres jovens e adolescentes. O acesso voluntário à métodos contraceptivos modernos aumentou em 25% desde 1994, e a qualidade dos serviços de saúde sexual e de HIV também melhoraram muito.
Então por que toda semana são registrados cerca de 7.000 novos casos de infecção por HIV entre mulheres e meninas? E por que, na África Subsaariana, a chance de infecção por HIV entre meninas com idades de 15 a 19 anos, é três vezes maior do que os meninos da mesma idade?
“Não podemos esperar mais 25 anos. Precisamos pressionar pela responsabilidade para que haja progresso suficiente no tratamento do atual déficit do governo para cumprir os compromissos de direitos sexuais e reprodutivos para mulheres e meninas ”, disse Gogontlejang Phaladi, do Projeto Pilar da Esperança, em Botsuana.
Seus comentários deram o tom no evento organizado pela Coalizão Global para Prevenção do HIV, durante a Conferência Women Deliver, em Vancouver, Canadá. O evento, coorganizado pelo UNAIDS e pelo Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), realizado em 3 de junho, destacou por que as mulheres jovens e adolescentes estão sendo deixadas para trás, e por que continuam a suportar o peso das más condições de saúde sexuais e reprodutivas, e de HIV.
“Estamos enfrentando uma crise de prevenção do HIV”, disse Shannon Hader, vice-diretora executiva de Programa do UNAIDS. “Embora a meta seja reduzir as novas infecções por HIV entre adolescentes e mulheres jovens para menos de 100 mil, estima-se tenham ocorrido 340 mil novas infecções por HIV em 2017. Temos uma enorme tarefa pela frente”.
As palestrantes do evento discutiram a importância crítica de envolver jovens no papel de líderes da mudança. “Precisamos convocar decisores políticos, líderes tradicionais e religiosos, até mesmo os pais”, disse Monica Geingos, primeira-dama da Namíbia. “Nunca devemos lhe falar o que dizer. Em gerações passadas, vocês eram silenciados e ficavam energonhados. Nunca calem suas vozes ”. Ela também acrescentou que a falta de progresso para mulheres e meninas está sendo alimentada pela discriminação de gênero, violência e negação das liberdades fundamentais.
A diretora regional do UNFPA para a África Oriental e Austral, Julitta Onabanjo, também enfatizou que é preciso fazer mais. “Eu vejo uma geração de jovens guerreiras e dinâmicas que vão levar adiante a agenda—de modo que até 2030, todo jovem possa alcançar seu maior potencial e nada os detenha”, disse ela, embora destacando que as recomendações do evento devem ser complementadas em uma cúpula que será realizada em Nairobi, no Quênia, ainda em 2019.
Uma questão importante que impede mulheres jovens e meninas de ter acesso a serviços de HIV é a exigência de muitos países de que os jovens precisam ter mais de 18 anos para ter acesso a serviços de saúde sem o consentimento dos pais, incluindo saúde sexual e reprodutiva e serviços de HIV. O UNAIDS estima que 78 países têm alguma lei ou política restritiva que impede os jovens de ter acesso a serviços de saúde sexual sem o consentimento dos pais.
Como parte dos esforços para remover essas barreiras, para que jovens possam ter acesso a prevenção, testes e cuidados oportunos e eficazes contra o HIV, durante a reunião de pré-conferência Geração do Agora: Nossa Saúde, Nossos Direitos, em 2 de junho, o UNAIDS se comprometeu a atuar frente a leis de consentimento dos pais e a sua implementação, em cinco países da África Oriental e Austral—Lesoto, Malawi, Namíbia, Uganda e Zâmbia. Isso inclui trabalhar com os jovens para garantir que os jovens estejam promovendo mudanças e co-criando os serviços de qualidade que desejam e precisam para ter um futuro brilhante e saudável.
Para avançar no progresso, as participantes concordaram que investir em organizações comunitárias será fundamental, assim como levar pequenos projetos que funcionam em nível local para o nível nacional. Nyasha Sithole, da Rede Athena, disse: “As pessoas estão regando as folhas, mas não as raízes. Precisamos nos afastar do papel e da caneta para a conseguir a implementação”.