Quando a família e os vizinhos de Salma Karim (nome fictício) descobriram que ela vivia com HIV, eles a expulsaram de casa. Sem ter para onde ir, ela foi forçada a deixar seus dois filhos pequenos para trás. Esta não é uma história incomum no Egito. Uma em cada cinco pessoas vivendo com HIV relata ter sido forçada a deixar seus lares por locatários, familiares ou vizinhos.
Altos níveis de estigma e discriminação impulsionam novas infecções por HIV no país, que duplicaram entre 2010 e 2016. Mulheres e adolescentes geralmente são as mais vulneráveis. Normas sociais, desigualdade de gênero, dependência econômica, discriminação legal e práticas nocivas as afetam desproporcionalmente, tornando-as mais vulneráveis ao HIV e enfrentando ainda mais estigma e discriminação no caso de infecção pelo vírus.
Em 2016, o UNAIDS, em parceria com o Ministério da Saúde e População do Egito, uniu esforços para desenvolver uma resposta transfomadora de igualdade de gênero à epidemia do HIV. Com financiamento do governo holandês, foi lançado um projeto piloto chamado ‘Aprimorando a Saúde Sexual e Reprodutiva de Mulheres Vivendo com HIV e Afetadas pelo Vírus’. Três anos depois, o projeto já dobrou seu alcance, fornecendo serviços de saúde sexual e reprodutiva de qualidade livre de estigmas para seus beneficiários.
“Perdi meu primeiro filho porque não sabia que vivia com HIV”, explica Nour Tarek (nome fictício). Foi em um dos locais do projeto-piloto, em Giza, que ela recebeu o apoio para acessar seus direitos reprodutivos livre de discriminação. “Eu recebi acompanhamento médico no hospital e engravidei novamente.”
Graças ao medicamento antirretroviral que recebeu durante a gravidez, seu bebê Mona (nome fictício) não vive com HIV. “Ainda temos que continuar fazendo o teste até que ela esteja mais velha para ter certeza de que está bem”, explica Tarek.
Tendo provado seu sucesso, o projeto-piloto está sendo ampliado para um terço das províncias do país. O objetivo é oferecer saúde sexual e reprodutiva de alta qualidade e serviços de HIV para 1.300 mulheres vivendo com HIV e para 3.000 mulheres em maior risco de infecção. Seu foco na capacitação de prestadores de serviços de saúde e organizações da sociedade civil será fundamental para evitar o estigma e a discriminação no futuro, que atualmente leva uma em cada quatro pessoas vivendo com HIV no Egito a não divulgar seu estado sorológico para o HIV ao buscar atendimento.
Durante sua visita ao Cairo em 9 de abril, o Diretor Executivo do UNAIDS, Michel Sidibé, e o Embaixador dos Países Baixos no Egito, Laurens Westhoff, discutiram a ampliação do projeto. Implementado por meio de uma nova doação holandesa de três anos, os serviços ampliados complementarão os esforços nacionais para alcançar a ambiciosa nova Estratégia Nacional de Combate à AIDS 2018-2020 do Egito e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.