Para o Dia Internacional da Visibilidade Trans (31 de março) 2018, o UNAIDS conversou com ativistas trans sobre os desafios que enfrentam e a importância de melhorar a visibilidade das pessoas trans.
Erika Castellanos é uma mulher trans de Belize que se mudou recentemente para a Holanda para trabalhar na GATE (Ação Global pela Igualdade Trans) como Diretora de Programas. Ela tem se empenhado no advocacy para pessoas trans e HIV nos níveis local, regional e internacional.
Quais são os desafios que as pessoas trans enfrentam?
Pessoas transexuais estão sujeitas ao estigma, discriminação, ódio e violência—o número de mortes de transexuais por crimes de ódio é alarmante. Em muitas partes do mundo, ser trans é crime, o que torna as pessoas transexuais invisíveis nesses lugares e as força à marginalização.
Muitas pessoas não entendem o que são pessoas trans, o que se traduz em medo e causa o estigma e a discriminação. Desde a infância, pessoas trans são rejeitadas frequentemente por suas famílias, amigos e a sociedade, encontrando-se excluídas.
Por que você acha importante dar visibilidade às pessoas trans?
Visibilidade é poder. Somente quando a visibilidade é concedida podemos levantar nossas vozes e defender o usufruto de nossos direitos humanos. A visibilidade nos dá presença, a visibilidade nos dá uma voz. Finalmente, a visibilidade nos dá esperança de uma vida melhor. As pessoas trans são parte integrante da sociedade e não podem mais ser ignoradas.
O que você acha da representação de pessoas trans pela mídia?
Quase toda a cobertura da mídia sobre pessoas transexuais é negativa, humilhante ou focada nas altas taxas de homicídios e na violência que nossa comunidade vivencia. Embora seja necessário destacar a violência, a cobertura humilhante e negativa da mídia que desumaniza as pessoas trans serve apenas para perpetuar a violência. Ao retratar pessoas trans como objetos de ridicularização, a cobertura da mídia coloca nossa comunidade em maior risco de isolamento social, violência e rejeição de amigos e familiares.
Rena Janamnuaysook é tailandesa e faz advocacy para pessoas trans no Centro de Pesquisa da AIDS da Cruz Vermelha na Tailândia. Ela tem extensa experiência local, nacional e internacional no trabalho com organizações relacionadas ao HIV.
Quais são os desafios que as pessoas trans enfrentam em seu país?
As pessoas transexuais tailandesas enfrentam vários desafios. Nosso país não possui uma lei de identidade de gênero. O estigma e a discriminação ainda são uma barreira e levam à desigualdade. Uma pesquisa realizada em 2015 pela Aliança Transgênero Tailandesa e a Transgender Europe informou que 50% das pessoas transexuais que participaram da pesquisa tiveram uma experiência negativa com profissionais de saúde. Além disso, pessoas transexuais sofrem violência física e assédio de suas famílias, nas escolas e nos locais de trabalho.
Por que você acha importante dar visibilidade às pessoas trans?
É importante dar visibilidade às pessoas transexuais, uma vez que essas pessoas são menos visíveis em todos os aspectos da vida—família, educação, emprego, saúde e direitos. O Dia Internacional da Visibilidade Trans aumenta a conscientização pública sobre as necessidades das pessoas transgênero.
Quão fácil para pessoas trans é fazer o teste para HIV e conseguir tratamento em seu país?
Uma pesquisa conduzida pelo Ministério de Saúde Pública da Tailândia em 2014 mostrou que 15% dos profissionais de saúde acreditavam que as mulheres transexuais vivendo com HIV deveriam ter vergonha de sua identidade de gênero e de seu estado sorológico para o HIV. Isso resultou em estigma e discriminação nas unidades de saúde pública e impediu que pessoas transexuais tivessem acesso aos serviços de saúde, incluindo testes de HIV, tratamento e apoio.
Kirit Solanki é um político indiano que representa o eleitorado de Ahmedabad no oeste de Gujarat.
Você pode nos contar sobre o seu trabalho com pessoas trans na Índia?
Eu me formei médico e me tornei cirurgião. Uma paciente entrou e disse que tinha dificuldade para ir ao banheiro. Eu percebi que ela era uma pessoa trans e sua cirurgia de redesignação de gênero não havia sido feita corretamente, bloqueando sua uretra. Depois da inserção bem sucedida de um cateter, a notícia de que eu salvara a vida da mulher se espalhou. De repente, tive filas de mulheres transexuais que vieram à minha clínica com condições semelhantes.
O que você observou sobre o tratamento e o atendimento às pessoas trans?
Eu percebi que muitas pessoas transgênero precisavam de várias operações, porém muitas evitavam clínicas e hospitais. Quando finalmente as levei ao hospital, elas foram instaladas na ala feminina. Outros pacientes reclamaram, então o hospital os enviou para a ala masculina. A situação lá não era melhor. Foi quando realmente me dei conta de como a discriminação contra as pessoas trans é pervasiva.
O que você e outros membros do parlamento estão tentando fazer?
Demorou 10 anos para o parlamento indiano aprovar o projeto de lei sobre HIV/AIDS, que torna o tratamento que salva vidas em um direito legal e criminaliza qualquer pessoa que discrimine alguém com base em seu estado sorológico para o HIV. Também reintroduzimos uma lei para garantir zero discriminação, reconhecimento legal e acesso aos serviços sociais para a comunidade transexual da Índia. É hora de mudar de atitude e respeitar as pessoas trans.