Ser capaz de comunicar-se não parece uma tarefa difícil, afinal, no dia a dia estamos em constante comunicação com tudo e com todos, seja na fala, na leitura, ou até mesmo nos gestos. Mas de que maneira essa comunicação ocorre quando se trata de saúde? Ela é eficiente? A comunicação entre o médico e paciente acontece de uma maneira simples ou ela ainda encontra alguns obstáculos?
Essas provocações foram feitas durante a roda de conversa Palavras não são neutras: intervenções para reduzir o estigma da AIDS no Brasil, promovida pelo UNAIDS Brasil durante o 11º Congresso de HIV/AIDS (HepAids 2017) em Curitiba, Paraná. O médico infectologista Marcos Borges, também conhecido como Doutor Maravilha por seu canal no youtube, aproveitou a oportunidade para focar em maneiras de utilizar a comunicação para melhorar as relações e o atendimento dentro dos serviços de saúde.
“Comunicação não é atropelar: você tem que saber o que a pessoa está sentindo, tem que ter essa capacidade empática, de poder se aproximar à medida que a pessoa deixa, sem violência, sem forçar a barra”, afirma Marcos em sua fala. O Doutor Maravilha ainda explica que quando precisa dar o diagnóstico para algum paciente, assume a postura de apoiar e deixar a pessoa se expressar, ou de lembrar os pontos positivos no trajeto de evolução da medicina em HIV/AIDS para contrapor com os medos comuns.
Formado em medicina, com especialização em Infectologia pela UFMG, Marcos tenta fazer do seu canal no Youtube, Doutor Maravilha, um espaço de informação em saúde para a população LGBTI+, principalmente para questões relacionadas ao HIV/AIDS. Ele também é integrante do Colegiado da Rede de Jovens que vivem e convivem com HIV do estado de Minas Gerais, urgencista e infectologista na Prefeitura Municipal de Belo Horizonte.
“Quando a gente lida com uma pessoa vivendo com HIV, ela não se resume ao teste reagente, ela não é só o indivíduo: é um filho, é um pai, é um irmão, é uma pessoa inserida em um contexto”, lembra. O médico também se emociona ao lembrar dos amigos que vivem com HIV, e ao mencionar que o preconceito não acabou. “São pessoas que eu admiro. Eu não vivo com HIV, mas o que aprendo com essas pessoas a cada dia é muito. Eu não preciso ter HIV para defender. A gente tem que lutar, porque é isso que faz a gente ser humano”.
A Diretora do UNAIDS Brasil, Georgiana Braga-Orillard, também usou a roda de conversa, e o lançamento do Guia de Terminologia do UNAIDS, para destacar que a maneira como nos expressamos pode aumentar o estigma e discriminação. “A gente tem que lembrar sempre que a linguagem molda o pensamento, ela é dinâmica. As palavras são instrumentos de inclusão e de exclusão e a linguagem também evolui no tempo, mas às vezes ela tem um retrocesso.”
O debate, que contou com a presença de cerca de 60 pessoas na sala Guarapuava do ExpoUnimed, local onde aconteceu o Hepaids2017, foi transmitido ao vivo pela conta do Facebook do UNAIDS Brasil. A transmissão, que foi compartilhada por páginas como Põe na Roda, Projeto Boa Sorte, Revista Galileu, Gabriel Comicholi, os Discordantes, teve mais de 9 mil visualizações e um alcance de quase 40 mil pessoas.
Leia a primeira matéria da série aqui.
Veja também a cobertura que o UNAIDS Brasil fez do evento pelo Twitter, através do Storify