Formar lideranças juvenis para o fortalecimento do enfrentando à epidemia de HIV/AIDS. Este foi um dos objetivos do curso Participação Juvenil, Ativismo e Direitos Humanos em HIV/AIDS no Estado de SP, organizado pela Rede de Jovens SP+. O curso foi voltado a adolescentes e jovens com idades entre 15 a 29 anos e contou com 70 participantes. O UNAIDS foi um dos apoiadores do encontro.
Pierre Freitaz faz parte da Rede de Jovens SP+ e foi um dos organizadores do curso. Ele esteve entre os 150 jovens de todo o brasil selecionados para uma das três edições do Curso de Formação de Jovens Lideranças: Ativismo e Mobilização Social para a Resposta e Controle do HIV/AIDS, realizado pelo UNAIDS e o Departamento de DST/AIDS e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, em parceria com UNESCO, UNICEF e UNFPA.
Confira os trechos da conversa de Pierre com o UNAIDS Brasil:
UNAIDS – Como surgiu a proposta do curso “Participação Juvenil, Ativismo e Direitos Humanos em HIV/AIDS no Estado de São Paulo”?
Pierre – A ideia surgiu a partir do curso de Jovens Lideranças que alguns membros da Rede de Jovens SP+ fizeram. E assim, a organização propôs a aplicação deste curso para o Programa Estadual DST/AIDS de São Paulo, que nos apoiou financeiramente. A ideia era aplicar o que aprendemos com outras metodologias e algumas mudanças através das avaliações e críticas ao curso.
UNAIDS – Empoderar jovens de populações-chave é muito importante para alcançarmos o fim da epidemia de AIDS até 2030. Quais foram as principais conclusões e lições aprendidas sobre o protagonismo juvenil na área de HIV/AIDS nesses dias de encontro?
Pierre – A organização do curso foi toda desenvolvida pela Rede de Jovens São Paulo +. O primeiro passo para o protagonismo juvenil, que foi bastante importante e interessante, foi ter jovens vivendo com HIV na comissão de frente da organização do curso e falando tanto com a juventude vivendo com HIV como a não vivendo.
Nós queríamos uma mescla de linguagens para falar com a juventude, por isso, pensamos nas questões dos temas, como iríamos abordar, quem seriam as pessoas falando nas mesas e como seria feita essa fala. Não queríamos uma fala técnica, nem muito acadêmica e nem muito social. O curso teve uma quantidade interessante de mulheres, travestis e transexuais. Nós conseguimos várias juventudes para dialogar com o tema que ainda é muito caro para a sociedade.
UNAIDS – Como alcançar os jovens e abordar questões como a epidemia, a discriminação e o preconceito? Fale-nos sobre algumas observações interessantes feitas pelos jovens participantes.
Pierre – Existem várias formas de alcancá-los, mas precisamos ter uma linguagem que acesse esses jovens. Grande parte das linguagens dos materiais, das oficinas e das aulas extras foi desenvolvida nas capitais e não conseguimos acessar tanto a periferia ou até mesmo o interior do estado.
Algumas ações estão sendo feitas por alguns jovens, mas se formos olhar a magnitude do estado e do país, percebemos que essas ações são muito pontuais, regionais ou locais. Não conseguimos espalhar as ações para vários lugares do estado, porque nós temos um défit grande de financiamento. Outra questão é o fato de que desacreditam na juventude, que o jovem não pode falar sobres as DSTs, prevenção ao HIV, pandemia e direitos humanos.
Eu acho que esse curso, pelos relatos que eu tive desses jovens, serviu de energia para eles continuarem com as ações, por mais que sejam pontuais. Nós temos uma grande dificuldade, a sociedade como um todo, o governo e algumas esferas dos movimentos sociais não estão abertos para o diálogo com o jovem e não acreditam nele. Com o curso, abrimos alguns horizontes, possibilitando que esses jovens criem os espaços que eles queiram para falar das questões da juventude, sexualidade, orientação sexual, gênero, prevenção, DSTs e até mesmo qual serviço de saúde nós queremos, porque queremos um serviço de saúde que inclua a juventude. Também trabalhamos para que o jovem seja o protagonista da própria saúde, para que ele saiba escolher e optar pelo melhor momento para tomar medicação e qual tomar. Além disso, queremos que a juventude possa escolher qual método preventivo quer utilizar além da camisinha.
UNAIDS – Quais são os próximos passos? O que será feito com os jovens envolvidos para dar continuidade às discussões e a esse aprendizado?
Pierre – No evento, separamos esses jovens em três grupos e cada um dos grupos pensou em ações para desenvolver no próprio território. A ideia agora é que a gente acompanhe essas ações e dê um suporte para eles conseguirem desenvolver as atividades. Além disso, estamos em processo de avaliação no curso, tivemos uma reunião na terça-feira, dia 2 de agosto, para elaborar uma análise do curso e ver se as expectativas foram alcançadas e quais serão os próximos passos. Apesar de o curso ter tido ações concretas, vários diálogos, jovens participativos e espaços bacanas de diálogo e troca, nós queremos realizar uma avaliação para ver como podemos fazer o curso continuar e até mesmo ter outras edições.
UNAIDS – Qual a importância de se falar sobre prevenção ao HIV e sobre o combate à discriminação com jovens do Estado de São Paulo?
Pierre-Eu acho que é muito importante falar sobre HIV, mas antes disso, acho que é muito importante falar sobre sexualidade, precisamos deixar o tabu de lado e falar sobre isso. Porque a partir do momento em que falamos de sexualidade, acabamos falando sobre métodos preventivos, prevenção do HIV e das DSTs. Ainda estamos em um país que, infelizmente, é conservador. O Estado, na prática, não é laico e temos algumas esferas religiosas interferindo diretamente nas pautas de direitos da cidade. E isso é muito ruim, porque acaba perpetuando um tabu contínuo em falar sobre sexo e prevenção.
Um curso como o que nós fizemos deixa espaço para falar mais sobre sexualidade, gênero e prevenção das DSTs. Esse curso é fundamental para começar, no mínimo, a tirar esses tabus da cartola e jogar isso para sociedade. Falar para a sociedade que estamos aqui, temos sexualidade, temos orientações sexuais diferentes e queremos saber quais são as metodologias de prevenção tanto para HIV como para as demais DSTs. Acho que a partir do momento que começamos a falar sobre isso, começamos a ter outras posturas sobre as diferentes formas de agir e diferenciar a sexualidade.