A transfobia impede com que travestis e transexuais transitem por espaços bastante cotidianos à maioria das pessoas. O próprio mercado de trabalho formal se torna um espaço agressivo a essas pessoas, provocando a marginalização delas na grande maioria dos contextos profissionais.
Pensando em mudar essa situação, organizações e movimentos sociais têm buscado a conscientização de empresas e instituições em favor da luta contra a descriminação sofrida por pessoas trans. Isso tem feito com que muitas dessas pessoas consigam ocupar funções em áreas importantes desde áreas fundamentais para o setor de serviços até setores vistos como mais conservadores, como educação, segurança pública, saúde.
Mas quando chegam a seus postos, surge outro desafio: o ambiente de trabalho nem sempre é acolhedor, como conta Ludymilla Santiago, assessora especial de Direitos Humanos do Governo do Distrito Federal. Ela lembra de uma ocasião em que colegas de trabalho se reuniram para impedir sua entrada no banheiro feminino, e também das dificuldades que enfrentou para conseguir emprego antes de encontrar seu ofício no Governo do Distrito Federal. Ludymilla chegou a pensar que não tinha capacidade de estar no mercado de trabalho formal. E, depois de muitas vagas negadas, percebeu que o problema estava no fato de ser uma mulher transexual. Então resolveu confirmar.
“Comecei a colocar minha identidade de gênero como mais uma das informações do meu perfil no currículo. Assim paguei um preço bem mais alto, pois nem convites para entrevista eu recebia”, relata Ludymilla.
Já para o homem trans Raffael Carmo, a discriminação no trabalho veio do conservadorismo religioso. “Um dos funcionários do prédio disse aos meus pais que não me chamaria pelo meu nome social porque a religião dele não compreendia isso, então era errado”, relembra. Ele, que iniciou sua transição de gênero já empregado, nota que hoje seus colegas de trabalho estão se readequando à nova maneira de se referir a ele. O incomodo, na verdade, está nos olhares constrangedores que recebe quando passa pelos corredores.
Casos de discriminação como os sofridos por Raffael e Ludymilla fazem com que 90% das transexuais e travestis estejam na prostituição, segundo a Associação Nacional de Travestis e Transexuais – ANTRA. Por isso, políticas de combate à discriminação se mostram instrumentos essenciais para que essas pessoas ampliem seu leque de opções quando a questão é a escolha de seu futuro profissional.
“A prostuição no Brasil deve ser descriminalizada e deve ser uma opção. Para qualquer pessoa que quiser se prostituir, ela tem que ser encarada como um trabalho e uma opção”, afirma Rafaelly Weist, presidente da Instituição de Travestis e Transexuais de Curitiba. “Infelizmente, para pessoas trans essa é uma das únicas escolhas. A gente só pode ser puta (sic), só pode ser garota de programa.”
Um bom exemplo de ambiente de trabalho acolhedor é trazido por Jaqueline Gomes de Jesus, psicóloga no Núcleo Interdisciplinar de Ações para a Cidadania da Universidade Federal do Rio de Janeiro. “Sempre fui incentivada por colegas de trabalho, principalmente os que trabalhavam diretamente comigo, a vivenciar minha identidade de gênero da forma mais livre possível”, conta. E dá dicas de como não discriminar uma pessoa trans no trabalho:
“Trate a pessoa conforme o gênero com o qual ela se identifique. Busque conhecer pessoalmente a/o colega trans, não pressuponha seu modo de ser e seus comportamentos com base em estereótipos. Se tiver dúvidas sinceras, pergunte. Não exponha a identidade de gênero da/o colega sem que tenha sido perguntada/o a respeito do tema. Promova um ambiente de segurança para a/o colega de trabalho trans, garantindo seu direito à identificação profissional e ao uso de espaços, como os banheiros, adequados à forma como ela/ele se reconhece.”
“Acho que a grande mensagem do movimento trans é isso: é eu ser respeita pela Rafaelly que vocês estão vendo. Não pelo o que o médico diz que eu sou, ou que os outros dizem que eu sou, e sim o que eu falo para vocês que eu sou. Sou Rafaelly, uma mulher que quer viver tão igual quanto qualquer outra”, diz Rafaelly.
Para saber mais sobre como acabar com a discriminação às pessoas LGBTI+ no seu ambiente de trabalho leia e compartilhe este manual fruto de uma iniciativa conjunta do UNAIDS, da OIT, e do PNUD, em parceria com a Txai Consultoria: