A organização não governamental Nação Basquete de Rua (NBR) lançou, este mês (7/11), o projeto Se Liga Ae Juventude!, para levar conhecimento sobre HIV e AIDS a jovens da periferia de Campos dos Goytacazes, no Rio de Janeiro. O projeto, que conta com o apoio do UNAIDS, busca também promover o empoderamento destas comunidades por meio do conhecimento sobre sexualidade e questões sobre o estigma e a discriminação—que ainda têm impacto significativo sobre pessoas que vivem com HIV e que vivem com AIDS. O objetivo com estas ações é conscientizar, principalmente a juventude negra de periferia, sobre a prevenção do HIV e outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST).
No lançamento do projeto, realizado no Instituto Federal Fluminense, o UNAIDS apresentou o papel e a atuação da ONU nas áreas de saúde, educação, igualdade de gênero e Zero Discriminação para cerca de 300 adolescentes das comunidades da Linha e de Guarus.
“Abordamos questões sobre as diversas formas de estigma, por meio de exemplos cotidianos, e também reforçamos que muitas pessoas reproduzem esses problemas por falta de informação adequada”, disse Ariadne Ribeiro, assessora para apoio comunitário do UNAIDS. “Muitos jovens e muitas jovens relataram que passam por constrangimentos por serem pobres, negros, bissexuais ou gays, e também pelo simples fato de morarem na região onde moram.”
O debate realizado no dia do lançamento também deu destaque à importância da mobilização local para alcançar o fim da epidemia de AIDS como ameaça à saúde pública até 2030.
O projeto Se Liga Ae Juventude! irá capacitar jovens de 12 a 18 anos, principalmente a juventude negra e de periferias, em habilidades de discussão sobre temas de prevenção ao HIV e saúde sexual e reprodutiva. A partir dos conhecimentos adquiridos, estas pessoas poderão produzir materiais educativos em diferentes plataformas de comunicação, com linguagens desenvolvidas por elas mesmas, levando o debate para suas comunidades, principalmente aquelas afastadas dos grandes centros e das capitais brasileiras.
A psicóloga e vice-presidente da NBR, Tamillys Lirio, acredita que a iniciativa pode criar agentes multiplicadores de informações, e até mesmo empreendedores sociais e possíveis novos ativistas juvenis. “Queremos que o município de Campos dos Goytacazes tenha o maior número possível de jovens conscientes e ativos, cientes de seus deveres e direitos, para que, junto às suas comunidades, possam lutar por uma cidade melhor e mais igual”, destacou. “A desigualdade socioeconômica dita quais populações mais adoecem, as que menos têm acesso ao bem-estar e a serviços públicos de qualidade. Diante desse alarmante cenário, nós da NBR compilamos as principais demandas e fragilidades percebidas nos contextos das juventudes em seus territórios e desenvolvemos o projeto.”
O cronograma do Se Liga Ae Juventude! prevê atividades para os meses de novembro e dezembro, que incluem temas como sexualidade e prevenção; HIV/AIDS e questões raciais; prevenção em contextos de violência urbana e falta de perspectivas de futuro; direitos e questões relacionadas à saúde da juventude. Também está programada visita a um serviço de atendimento e testagem para HIV na região.
“As pessoas que vivem nas periferias têm dificuldades que vão desde a locomoção e tarifas do transporte público até a alimentação e nutrição adequada. E pesquisas demonstram que a população negra e pobre tem 2,4 vezes mais chances de morrer em decorrência de complicações relacionadas à AIDS”, afirmou assessora para apoio comunitário do UNAIDS. “Além disso, meninas e meninos cada vez mais jovens também estão se infectando por sífilis, o que acaba vulnerabilizando ainda mais essa população para a infecção por HIV. E prevenção é a chave, completou.”
Nação Basquete de Rua
A ONG Nação Basquete de Rua (NBR) atua desde 2009 em prol das garantias dos direitos sociais e no combate às causas da violência urbana, com foco no apoio, por meio do esporte, da cultura e da educação, às crianças, jovens em situação de vulnerabilidade e grupos socialmente marginalizados.
Desde 2015, a ONG já é parceira do UNAIDS e do Ministério da Saúde no projeto Jovens Lideranças, que capacita jovens para reforçar o estímulo à participação de debates, palestras, dinâmicas, atividades e ações que buscam democratizar e quebrar tabus acerca de temas como HIV e AIDS, saúde sexual e reprodutiva, entendendo a importância do conhecimento e de um maior esclarecimento sobre esses assuntos na linguagem e na abordagem adequadas para jovens.
HIV em populações vulneráveis
Segundo dados do Boletim Epidemiológico de 2018 do Ministério da Saúde, com relação a raça/cor de pele autodeclarada, entre os casos registrados de 2007 a junho de 2018 no Brasil, 46,1% ocorreram entre brancos e 52,9% entre negros (pretos e pardos, sendo as proporções estratificadas 11,4% e 41,5%, respectivamente).
No sexo masculino, 48,0% dos casos ocorreram entre brancos e 50,9% entre negros (pretos, 10,3% e pardos, 40,7%); entre as mulheres, 41,9% dos casos se deram entre brancas e 57,1% entre negras (pretas, 13,9% e pardas,43,2%). Além disso, 8,5% dos registros tiveram a informação sobre raça/cor ignorada.
Quando analisados os casos de AIDS nos últimos dez anos e a distribuição dos indivíduos pelo quesito raça/cor, observa-se queda de 20,9% na proporção de casos entre pessoas brancas. Entre as pessoas autodeclaradas pardas, essa proporção aumentou 33,5%. Considerando a população negra (pretos e pardos), o aumento observado no período foi de 23,5%. Observando-se a série histórica, nota-se que, desde 2009, os casos de AIDS são mais prevalentes em mulheres negras, enquanto entre homens isso ocorre desde 2012. No ano de 2017, as proporções observadas foram de 57,3% e 61,1% entre homens e mulheres negras, respectivamente.
Mortes por AIDS na população negra no Brasil
Também em 2017, foram registrados 11.463 óbitos por causa básica AIDS, com uma taxa de mortalidade de 4,8/100.000 habitantes. A taxa de mortalidade teve redução de 15,8% entre 2014 e 2017, possivelmente em consequência da recomendação do “tratamento para todos” no Brasil e da ampliação do diagnóstico precoce da infecção pelo HIV.
Do total de mortes registradas no Brasil em 2017, 60,3% foram entre pessoas negras (pretas 14,1% e pardas 46,2%), 39,2% em entre pessoas brancas, 0,2% entre amarelas e 0,2% entre indígenas. A proporção de óbitos entre mulheres negras foi superior à observada em homens negros: 63,3% e 58,8%, respectivamente. Realizando-se uma comparação entre os anos de 2007 e 2017, há uma queda de 23,8% na proporção de óbitos de pessoas brancas e um crescimento de 25,3% na proporção de óbitos de pessoas negras.
Fotos: Otávio Pessanha