Chegar ao assentamento de Bangula no distrito de Nsanje, no sul do Malawi, exige uma árdua caminhada de cinco quilômetros a partir da fronteira com Moçambique.
Cerca de 2.000 moçambicanos fizeram esta caminhada desde que foram deslocados há um mês pelas inundações causadas pelo ciclone Idai. O assentamento também é o lar temporário de cerca de 3.500 malawianos de aldeias vizinhas que também foram deslocados.
Como uma comunidade de pequeno porte predominantemente agrícola, as casas, pertences e meios de subsistência foram todos arrastados pelas inundações. As pessoas estão agora em Bangula, esperando a terra secar para que possam voltar para casa e começar a reconstruir suas vidas.
A resposta de emergência para ajudar as 81.000 pessoas no distrito afetado pelas enchentes está sendo coordenada pelo Governo do Malawi, Nações Unidas, parceiros de desenvolvimento e organizações não-governamentais.
Após a chegada ao assentamento, as famílias recebem colchões e cobertores para dormir e farinha de milho para cozinhar. Mulheres e crianças estão alojadas em 21 tendas na parte de trás do assentamento e o restante dorme em galpões industriais abertos.
Em uma visita ao acampamento, Michel Sidibé, Diretor Executivo do UNAIDS, ouviu que não há abrigo suficiente para todos nem iluminação à noite, o que aumenta as vulnerabilidades, especialmente para mulheres e crianças.
Sabe-se que a violência sexual e a violência baseada em gênero contra mulheres e crianças cresce em situações de emergência, como a de Bangula. As pessoas também relataram falta de nutrição adequada, acesso a água potável e saneamento, bem como suas experiências de estigma e discriminação.
A pequena clínica do assentamento concentra-se principalmente em cuidados de saúde primários e oferece serviços de pré-natal e puerpério, aconselhamento e testagem do HIV, reabastecimento de medicamentos antirretrovirais e apoio psicossocial.
Enquanto estava no assentamento, Sidibé conversou com um grupo de pessoas que vivem com HIV e procuraram o assentamento como abrigo. Elas contaram como tentaram salvar os medicamentos antirretrovirais quando as enchentes chegaram.
“Quando as inundações chegaram, minha casa foi destruída. Mas consegui pegar minha sacola plástica onde guardo meus medicamentos, porque é uma das minhas posses mais preciosas”, disse Sophia Naphazi, que mora na aldeia Jambo.
Elizabeth Kutenti, outra mulher que vive com HIV, falou sobre como seus antirretrovirais estavam seguros porque ela os mantém na cobertura. “Eles são a minha vida”, disse ela.
O apoio que as pessoas que estão no assentamento precisam para voltar para casa é modesto. “Precisamos de três coisas: uma cobertura de plástico para o que restou de nossas casas; sementes de milho para plantar e uma enxada. Então poderemos ir para casa”, disse Miliam Moses.
“O nível de resiliência que presenciei hoje é simplesmente incrível”, disse Sidibé. “A mensagem mais importante que ouvi é de esperança.”
O Diretor Executivo do UNAIDS foi acompanhado por Atupele Austin Muluzi, Ministro da Saúde e População do Malawi. Ele agradeceu às agências da ONU e aos departamentos do governo que apoiaram a coordenação na resposta de emergência. “Precisamos de apoio contínuo para que todas as pessoas neste assentamento recebam a ajuda necessária para que possam voltar para casa e viver com dignidade”, disse ele.