Nos últimos quatro meses, Benjamin Sana, 34 anos, tem frequentado regularmente a Clínica Oasis em Ouagadougou, Burkina Faso, onde ele consulta um médico que faz um check-up completo.
O médico e os educadores de pares também verificam se Sana tem alguma dúvida sobre o seu regime de profilaxia pré-exposição (PrEP). A PrEP é tomada por pessoas que não vivem com HIV, mas que têm maior risco de infecção. Este método de prevenção provou ser muito eficaz em manter as pessoas livres do HIV.
“Dois mais um mais um”, responde Sana referindo-se a quando ele precisa tomar os remédios – dois comprimidos duas horas antes do sexo, um no dia seguinte e outro no próximo dia. Esse regime de uso de PrEP é conhecido como “PrEP sob demanda”. No Brasil, o regime adotado pelo Ministério da Saúde é o de tomada de uma pílula diária.
Após seu check-up, Sana, 34 anos, disse: “a PrEP me protege e me sinto seguro.” Ele ainda usa preservativos e lubrificante, mas mesmo quando não usa estes outros metodos, ele diz que ainda se sente seguro.
Sana, que é homossexual, é um dos 100 homens que participam do projeto-piloto da PrEP na Clínica Oasis, administrada pela Association African Solidarité (AAS). Clínicas de saúde na Costa do Marfim, no Mali e em Togo também participam do projeto-piloto, que está em andamento desde 2017.
Camille Rajaonarivelo, médica da AAS, disse que a PrEP faz parte de uma abordagem de prevenção combinada que também envolve colegas treinados de sua comunidade. O projeto avaliará a adesão ao tratamento e se os participantes recebem a PrEP corretamente, explicou ela.
“O objetivo final deste projeto-piloto é ampliar e implantar a PrEP nacionalmente, assim que as autoridades derem sinal verde”, disse ela.
O estudo tem como objetivo avaliar se a opção preventiva ganha força e quão viável seria implantá-la nacional e regionalmente. Financiado pela Agência Nacional Francesa de Pesquisa em Aids e Especialização França em parceria com Coalizão PLUS e três institutos de saúde europeus, o projeto piloto fornecerá dados e averiguará se o tratamento reduz o número de novas infecções por HIV entre homens gays e outros homens que sexo com homens.
O Burkina Faso não penaliza a homossexualidade, mas o estigma contra ela é alto. Como resultado, os homens gays e outros homens que fazem sexo com homens frequentemente escondem sua sexualidade e tendem a evitar os serviços de saúde. A prevalência do HIV em Burkina Faso entre homens gays e outros HSH é de 1,9%, mais que o dobro da taxa da população geral.
Os primeiros resultados definitivos do projeto piloto da PrEP em Ouagadougou devem estar disponíveis em 2020. Sana disse que muitos de seus amigos mostraram interesse em tomar PrEP. “Como o projeto-piloto tem participantes limitados, muitas pessoas foram rejeitadas”, disse ele.
Ele acredita que a PrEP salvará vidas, especialmente as dos homens jovens. “Hoje em dia, os jovens assumem muito mais riscos e não se protegem”, disse Sana. Camille Rajaonarivelo concordou e acrescentou que isso se aplica a homens jovens e mulheres jovens. “Estou chocada ao ver novos casos de HIV a cada semana”, disse ela. “Temos que reforçar a prevenção e a conscientização sobre o HIV novamente.”