Elevando-se sobre uma multidão de jovens, Christine Kafando provoca a multidão com perguntas. “Você se sente pressionado por outros meninos e meninas?” “Você se sente abandonado por conta da pobreza?” “Você tem todas as informações necessárias sobre sua saúde e HIV? Se não, podem me perguntar ou perguntar aos seus parceiros, pergunte! Ok?”
Os 40 meninos e meninas acenam e dão de ombros. Eles vieram para uma oficina organizada pela Associação Espoir pour Demain (AED) ou Esperança pelo Amanhã, na tradução livre ao português. A oficina aconteceu em Bobo-Dioulasso, em Burkina Faso, e tem como objetivo criar um espaço para que os jovens aprendam sobre saúde sexual e façam o treinamento para que se tornem educadores de pares.
“Depois de ver uma série de jovens estudantes engravidar, sentimos a necessidade de começar esses workshops”, disse Kafando, a fundadora da AED.
Issa Diarra disse que o workshop permitiu o diálogo. “Em nossa sociedade, realmente não falamos muito sobre sexo e outras questões de saúde, mas aqui nós realmente tivemos a chance de discutir tudo isso”, disse ele. Outro participante do workshop, Roland Sanou, concordou: “O sexo ainda é um tabu para os jovens, mas não quero que continue assim.”
Muitos dos jovens dizem que os tempos mudaram e que a maneira como eles pensam é diferente da maneira como os pais pensavam. “Atualmente, nós jovens somos conscientes e sabemos o que queremos e que estar doente pode nos impedir de realizar nossos sonhos, por isso estamos nos mobilizando”, disse Baba Coulibaly.
No início, a AED ajudou mulheres que vivem com HIV a ter acesso ao tratamento. Em seguida, cresceu para ajudar as mães e seus bebês que nasceram com HIV. Quinze anos depois, muitas dessas crianças agora são adolescentes e ainda participam do projeto. Refletindo sobre suas duas décadas como ativista em HIV, Kafando disse: “Por muitos anos, as mulheres têm sido o rosto do HIV, mas é fundamental incluir homens e meninos para aumentar a conscientização.”
Jacinta Kienou, uma enfermeira que faz parte da associação desde sua fundação, disse que há dois grandes desafios: vários jovens que vivem com HIV não fazem o tratamento regularmente e muitos jovens não sabem lidar com relacionamentos. “Como vivem com HIV e são jovens, muitas questões surgem em relação ao afeto e à aceitação do estado sorológico para o HIV”, disse Kienou. “Muitas vezes, os relacionamentos terminam por causa do estado sorológico de alguém”, acrescentou ela.
Em Burkina Faso, os jovens representam mais de 60% da população e os dados mostram que muitos deles não conhecem seu estado sorológico para o HIV. O Assessor de Informação Estratégica do UNAIDS, André Kaboré, descreve duas lacunas em relação aos jovens. “Apesar do tratamento de alta qualidade estar prontamente disponível, ainda há crianças que não sabem que estão vivendo com HIV. Pior, muitos daqueles que sabem que estão vivendo com HIV não têm acesso ao tratamento”, disse ele.
No país, 94 mil pessoas vivem com HIV, das quais 9.400 são crianças menores de 15 anos. Enquanto 65% dos adultos que vivem com HIV estão em terapia antirretroviral, apenas 28% das crianças que sabe-se que vivem com HIV (cerca de 3.500) estão em tratamento. Kafando chama essas crianças de ‘geração esquecida’. “Elas ficaram desamparadas porque até agora nunca estiveram doentes ou precisaram de cuidados e, portanto, nunca foram testadas para o HIV”, disse ela.
A chefe do Conselho Nacional de AIDS de Bobo Dioulasso e da região vizinha, Suzanne Sidibé, disse: “Perdemos de vista as crianças que nasceram com HIV. Nosso objetivo, com a ajuda da AED, é ampliar as informações pelas famílias por meio dos mediadores de saúde.”
Hoho Kambiré vive com HIV e tem quatro filhos, sendo que dois vivem com HIV. Como mediadora de saúde da AED, ela fala sobre os benefícios de conhecer seu estado sorológico. Ela visita famílias, acompanha mulheres em clínicas e fornece apoio. “É necessário testar todas as crianças para saber quem está doente e quem não está doente e acompanhá-las para que continuem saudáveis”, disse ela. A AED tem agora mais de 50 mediadores de saúde, a maioria mulheres como Kambiré, que originalmente foi até a associação em busca de serviços de saúde.
O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e o UNAIDS apoiam financeiramente o AED. Mireille Cissé, especialista em HIV do UNICEF, disse que a ONU em Burkina Faso identificou as prioridades para a resposta à AIDS no país, incluindo o trabalho com a sociedade civil. “Nós concordamos que era necessário estabelecer um elo da comunidade, porque elas são nossa entrada nas famílias”, disse Cissé. O UNICEF formalizou a contribuição dos mediadores da saúde, providenciando uma remuneração pelo trabalho e colaborando com o escritório regional do Ministério da Saúde.
“Ver os mediadores de saúde integrados nas equipes de saúde dos distritos foi uma verdadeira vitória para nós”, disse Cissé. “Essa entrada realmente facilitou o papel dos mediadores de saúde e aumentou sua visibilidade”.
O UNAIDS reforçou a capacidade dos mediadores de saúde para ampliar seu escopo de trabalho, que vai do aconselhamento psicossocial ao treinamento sobre adesão ao tratamento. “Manter nosso progresso na resposta ao HIV e acabar com a AIDS depende muito da sociedade civil, como a AED”, disse Job Sagbohan, Diretor do UNAIDS em Burkina Faso. “Nós realmente esperamos pelo impacto máximo.”