Quando Selokela Molamodi tinha quatro anos, sua professora perguntou à turma o que eles queriam ser quando crescessem. Enquanto seus colegas de classe desejavam profissões mais convencionais, como enfermeiros, médicos e advogados, a resposta de Molamodi, dada com uma determinação apaixonada, era: “Eu quero ser Ministra da Educação”.
Seu amor pela educação e sua personalidade determinada acompanham Molamodi, que hoje tem 19 anos. No ano passado, ela se formou como primeira colocada em sua turma, tendo sido líder de turma na escola primária e na secundária. Equipada com uma autoconfiança inabalável e com princípios essenciais de transparência, honestidade e humildade, Molamodi evitou repetir o destino de muitas mulheres jovens sul-africanas—infecção por HIV, gravidez indesejada e abandono do ensino médio.
Ela diz que teve que lidar com as mesmas duras realidades que outras mulheres jovens—dificuldades financeiras, crime, violência, pressão dos colegas, a tentação dos “blessers” (homens mais velhos) e abuso de álcool e outras drogas. Ficar na escola a manteve focada, explicou Molamodi
“Ainda há muitas ideias erradas sobre HIV entre os jovens. Não falamos sobre sexo abertamente. Os jovens recebem conhecimento sobre saúde sexual e reprodutiva, mas não recebem conhecimento sobre como tomar decisões relacionadas ao sexo”, diz ela.
Na África do Sul, 1500 mulheres jovens e adolescentes (entre 15 e 24 anos) são infectadas pelo HIV por semana. Essas infecções representaram 29% de todas as novas infecções por HIV no país em 2017. Uma pesquisa mostrou que homens mais velhos, geralmente de cinco a oito anos mais velhos, são os principais responsáveis pela infecção do HIV em mulheres mais jovens; e quando as mulheres chegam nos vinte e cinco anos, transmitem o vírus para homens da mesma idade.
“Há uma percepção entre as mulheres mais novas de que devemos ter um grande número de parceiros sexuais quando somos jovens, porque isso significa ser livre. Então, quando chegarmos aos vinte e poucos anos, deixaremos essa vida para trás e nos estabeleceremos. Mas as meninas não entendem que elas não têm controle sobre essas relações sexuais, que o consentimento delas não conta”, diz Molamodi.
Para incentivar o diálogo sobre essas e muitas outras questões enfrentadas por mulheres jovens, Molamodi iniciou o You for You (Você por Você, em tradução livre) quando estava em seu último ano de escola. “Eu chamo de movimento, não de organização”, diz Molamodi. “É sobre aceitar e amar a si mesma por você. Embora possamos existir como uma comunidade e um coletivo, devemos primeiro nos amar como indivíduos”, diz ela.
Molamodi e mais duas amigas que iniciaram o movimento com ela, fazem sessões individuais de orientação com outras jovens sobre questões como autoestima, positividade corporal, saúde sexual e reprodutiva e abuso de álcool e outras drogas. Ela também organizou dois eventos que focaram no empoderamento de mulheres jovens como líderes “para que possamos nos levantar como mulheres jovens e enfrentar a discriminação, juntas.”
Ela vê a iniciativa DREAMS—liderada pelo Plano de Emergência do Presidente dos Estados Unidos para o Alívio da AIDS—como a matriarca de uma família de mulheres jovens como ela. Na África do Sul, a DREAMS trabalha em estreita colaboração com a She Conquers (Ela Conquista, na tradução livre), uma campanha nacional dirigida pelo governo que visa capacitar mulheres jovens e meninas adolescentes a assumirem a responsabilidade por sua saúde.
“A parceria entre DREAMS e She Conquers nos proporcionou um espaço para conversas naturais sobre questões que nos afetam como mulheres jovens com outras mulheres jovens. Dá uma voz e traz iluminação. Por exemplo, a maioria das meninas que eu conheço fez o teste de HIV, mas nenhuma delas havia falado sobre isso, até DREAMS/She Conquers virem à nossa escola”, diz Molamodi.
“Esse é um dos tipos de iniciativa que aumentam a eficácia do que o UNAIDS está tentando conquistar”, diz Molamodi. “Sim, forneça às meninas serviços de prevenção e tratamento de HIV e de planejamento familiar sem discriminação, mas também peça nosso feedback. Dê-nos educação e informação e ensine que nossas ações têm consequências em nosso progresso ou regresso.”
Ela diz que gostaria de ver as conversas sobre prevenção do HIV e saúde sexual e reprodutiva acontecendo com mais frequência do que as conversas sobre carreira, capacitação e empreendedorismo.
Quanto à sua ambição para You for You, “eu quero ajudar a cultivar um continente de mulheres jovens que são confiantes o suficiente para se expressar; que são capazes de se defender e capacitar. Se eu conseguir ajudar alguém a dizer ‘eu não desisti’, então saberei que tive um propósito, que fui a razão de alguém para continuar.”