Análises do uso de mídias sociais mostra que, em geral, a maioria dos usuários tende a se envolver mais com informações alinhadas às suas crenças e percepções já existentes sobre o mundo. Esse fenômeno tem sido descrito como efeito “câmara de ressonância”—ou mais comumente descrito em português como “efeito bolha social”. Os usuários são cercados por conteúdos e ideias de pessoas que compartilham da mesma opinião e, por sua vez, replicam as mesmas informações em uma espécie de eco.
As “bolhas sociais” podem ser uma oportunidade, e ao mesmo tempo uma barreira na resposta ao HIV. Algumas comunidades online podem ser espaços livres de estigma para que as pessoas tenham acesso e compartilharem informações relacionadas ao HIV. Por outro lado, este “eco” ou “ressonância” também pode alimentar o estigma, incentivar atitudes discriminatórias, e disseminar informações erradas ou falsas. Até certo ponto, o efeito pode limitar a capacidade de indivíduos ou organizações de abranger pessoas fora de sua audiência.
O UNAIDS e a ViiV Healthcare lideraram um painel sobre o rompimento dessas “câmaras de ressonância”—ou bolhas sociais—durante a Conferência Internacional de AIDS, realizada de 23 a 27 de julho, em Amsterdã, na Holanda. Os membros do painel discutiram as diversas formas de comunicação tanto nos espaços digitais quanto não-digitais, o que vem mudando radicalmente nas últimas décadas.
O repórter da revista Science, Jon Cohen, explicou como usa a imprensa, o rádio, a televisão e o Twitter para acompanhar notícias. Apesar do seu trabalho estar em constante atualização, ele enfatizou a importância do jornalismo de qualidade.
“Um meio é um meio e, infelizmente, muitas pessoas não usam o veículo que têm para contar boas histórias”, disse o jornalista, comparando a situação a um médico que não usa sua melhor ferramenta durante uma operação. Na opinião dele, é fácil perder leitores e espectadores, por isso aconselha as pessoas a se envolverem ao máximo com seu público, evitando discursos parecidos com pregação.
“Mesmo que eu ofenda as pessoas, descrevo a realidade, porque quero que você a veja e a sinta”, disse ele.
Georgia Arnold, Diretora Executiva da MTV Staying Alive Foundation, explicou que a série de TV MTV Shuga, que fala sobre HIV, alcançou um enorme sucesso nos últimos nove anos por focar em adolescentes e usar uma linguagem familiar. A série retrata personagens que lidam com problemas reais e com os quais é possível se identificar, o que gera um retorno constante vindo dos jovens.
Recentemente, a MTV introduziu um personagem gay que, segundo ela, precisou de adaptações devido a proibição da homossexualidade em alguns países.
“Usem a tecnologia para transcender fronteiras”, disse ela, explicando que a MTV teve que transmitir duas versões do programa, mas fez o upload da versão gay para o YouTube, e monitorou o Twitter e Instagram. “Flexibilize os limites, não passe por cima deles,” aconselhou.
J.P. Mokgethi-Heath não poderia concordar mais. Ele é consultor político sobre HIV e teologia para a Igreja da Suécia e usa seu púlpito e textos sagrados para alcançar seu público. “Eu ajudo as pessoas a entender os textos de uma maneira diferente,” disse. Para ele, seu estilo pessoal de contar histórias leva a uma resposta imediata, então ele espera sempre continuar fiel às suas crenças.
A prontidão e a imersão levaram Rowan Pybus e Sydelle Willow-Smith a experimentar a criação de vídeos em realidade virtual. Os fundadores da Makhulu Productions basearam seus curtas-metragens 3D nas experiências de jovens sul-africanos e destacaram a jornada de uma adolescente com o HIV, fazendo com que os espectadores sintam que estão entrando em uma clínica para fazer o teste.
“A realidade virtual pode ter um efeito físico nas pessoas, e esse é um espaço muito interessante para se estar,” disse Pybus. Willow-Smith acrescentou que a união entre o Google, o UNAIDS, a Fundação Desmond Tutu e a Fundação Children’s Radio, para possibilitar a construção os filmes, reflete a existência de um interesse real em “sair do isolamento causado pelas bolhas sociais.”
O Diretor de Comunicação do UNAIDS, Mahesh Mahalingam, disse que o Dia Mundial contra a AIDS oferece uma grande oportunidade para alcançar as pessoas no que diz respeito ao HIV. No ano passado, de acordo com ele, o UNAIDS queria se comunicar de uma maneira nova. A equipe produziu um relatório (em inglês) no formato de revista sobre o direito à saúde em geral, indo além das questões relacionadas ao HIV. Várias comunidades se pronunciaram em uma série de perguntas e respostas sobre o que o direito à saúde significa para elas.
“As pessoas conseguiram dizer o que queriam usando o UNAIDS como porta-voz, permitindo-nos quebrar barreiras e alcançar novas audiências,” disse.
O simpósio terminou com a ViiV Healthcare e o UNAIDS anunciando um novo concurso digital de narrativas. “Se você sente que engaja grupos difíceis de serem alcançados, em questões voltadas à prevenção, teste, atenção e/ou estigma relacionado ao HIV, então faça sua inscrição,” disse Jennifer Carpenter, da ViiV Healthcare Positive Action. Ela também premiou os dois vencedores do concurso de vídeo Every Footstep Counts: Rogers Simiyu, da Fundação Pediátrica de AIDS Elisabeth Glaser, e Joseph Baguma, da THETA-Uganda.