Os pedidos de ampliação do número de agentes comunitários de saúde treinados e pagos para alcançar mais pessoas com cuidados de saúde primários tem sido feitos há décadas. No entanto, os países ainda estão encontrando dificuldades para expandir o número de profissionais de saúde que trabalhem em suas próprias comunidades. Isto acontece mesmo com irrefutáveis evidências científicas sobre os ganhos alcançados por programas de saúde comunitária na melhora geral da saúde, particularmente da saúde materna e infantil.
O investimento de Ruanda em uma combinação de seguros baseados nas comunidades e agentes comunitários de saúde levou à menor taxa de mortalidade materna na história do país, mostrando que investimentos salvam vidas.
“A África representa 25% do fardo mundial de doenças, mas conta com apenas 3% de todos os profissionais de saúde”, disse Michel Sidibé, Diretor Executivo do UNAIDS. “Precisamos de uma mudança de perspectiva para investir em agentes comunitários de saúde para garantir famílias saudáveis e seguras e alcançar as pessoas que foram deixadas para trás.”
Quarenta anos após a Declaração de Alma-Ata, que identificou os cuidados de saúde primários como essenciais para alcançar a saúde para todos, líderes globais em saúde se reuniram em um evento para promover a eficácia dos agentes comunitários de saúde, compartilhando experiências e buscando maneiras de avançar com a agenda em escala global.
O evento, convocado pelo Equador e pela Etiópia, foi realizado paralelamente à 71ª Assembleia Mundial da Saúde em Genebra, Suíça, em 21 de maio, e reuniu agentes comunitários de saúde, Ministros da Saúde, gerentes de programas, o Diretor-Geral da Organização Mundial da Saúde, Tedros Adhanom Ghebreyesus, a co-fundadora da Organização Elders, Graça Machel, e Diretor Executivo do UNAIDS, Michel Sidibé.
Sunil Kumar, um agente comunitário de saúde da Índia, relatou como os serviços médicos são importantes para as pessoas em comunidades afastadas. Ele explicou como conseguiu alcançar uma mulher grávida em uma área remota da Índia durante a estação das chuvas. Apesar de um rio perigosamente cheio, ele e seu colega ultrapassaram barreiras para garantir um parto seguro—um alerta absoluto do valor agregado ímpar dos agentes comunitários de saúde.
Os Ministros da Saúde do Equador, Etiópia e Namíbia e o Secretário Permanente da Tanzânia falaram sobre os sucessos e desafios que estão enfrentando na tentativa de expandir o número de agentes comunitários em seus países.
O Ministro da Saúde da Etiópia compartilhou um modelo bem-sucedido que foi ampliado no país. A Etiópia tem agora mais de 38 mil trabalhadores de saúde ampilada pagos e treinados desde o lançamento do programa em 2004, financiado por fundos governamentais e doações internacionais. O programa contribuiu significativamente para a diminuição dos índices de mortalidade materna, melhorias na higiene e no saneamento e na redução nas principais doenças transmissíveis.
“Estamos vivendo um momento importante para alcançarmos a cobertura universal de saúde”, disse o Tedros. “A atenção à saúde primária consiste na promoção e na prevenção, e os agente comunitários de saúde são a espinha dorsal.”
Em julho de 2017, a Comissão da União Africana lançou uma iniciativa para recrutar, treinar e mobilizar 2 milhões de agentes comunitários de saúde até 2020, uma iniciativa defendida pelo UNAIDS. O UNAIDS, em cooperação com a Organização Mundial da Saúde e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), apoiou recentemente a Comissão da União Africana na realização do primeiro levantamento sobre a situação do agentes comunitários de saúde em toda a África. As conclusões e recomendações serão submetidas aos chefes de Estado durante a Cúpula da União Africana em junho de 2018. O UNAIDS está apoiando os países na implementação desta iniciativa importante.
Embora passos positivos tenham sido alcançados, muitos países ainda estão lutando para aumentar a escala dos programas. “Na Namíbia, adotamos o modelo bem-sucedido da Etiópia”, disse o Ministro da Saúde da Namíbia. “Treinamos 2 mil pessoas, o que é pouco para uma população de 2,3 milhões, mas nem todas foram mobilizadas devido a cortes orçamentários, ineficiências e uso fraudulento de recursos.”
Outros desafios citados pelos palestrantes incluem questões de transporte, falta de tecnologia e suporte de comunicações, como smartphones, e liderança política nos níveis mais altos.
“Os sistemas de saúde precisam ser construídos de baixo para cima”, disse Bent Høie, Ministro de Serviços e Cuidados de Saúde da Noruega. “E isso começa com os agentes comunitários de saúde.”
Stefan Swartling Peterson, Chefe de Saúde da UNICEF, incorporou o sentimento da reunião compartilhando um ditado que seu professor, Francis Omaswa, ex-Ministro da Saúde de Uganda, frequentemente lembrava: “a saúde é feita em casa, os hospitais são para reparos,” e enfatizou que os agentes comunitários de saúde não podem estar sozinhos, e que sistemas, cadeias de fornecimento e gerenciamento de dados são necessários para tornar os programas bem-sucedidos.
Pedindo um movimento global com todos os países comprometidos a aumentar o número de agentes comunitários de saúde treinados e pagos, Graça Machel concluiu dizendo: “Não vamos voltar em 2030 e dizer que prometemos, mas fracassamos… Isto não é permitido.”