Uma enquete realizada no Brasil pelo Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (UNAIDS) e o aplicativo de relacionamentos gays Hornet mostra que os jovens gays têm menos conhecimento sobre a PreP (Profilaxia Pré-exposição) do que os adultos. A maioria dos usuários (85%) respondeu já ter ouvido falar sobre esta forma de prevenção do HIV. Mas enquanto 90% dos respondentes da faixa etária de 31-40 anos disseram ter ouvido falar sobre a PreP, um em cada quatro jovens de 18 a 25 anos (24%) nunca ouviu falar deste recurso.
A PrEP consiste na utilização de medicamentos antirretrovirais por pessoas HIV negativas para evitar que contraiam o vírus. A PrEP é altamente efetiva para prevenir o HIV quando utilizada corretamente.
O levantamento feito online com os usuários do aplicativo teve como objetivo coletar dados para apoiar ações de advocacy e conscientização sobre prevenção combinada. A enquete verificou também diferenças de conhecimento sobre PrEP entre as regiões do país. Os participantes das regiões Nordeste e Norte, por exemplo, apresentaram os menores percentuais de conhecimento sobre a Profilaxia Pré-exposição: 77% e 81%, respectivamente.
Realizada entre 22 de setembro a 16 de outubro de 2017, a enquete contou com a participação de 3.218 pessoas. Os usuários receberam mensagens pelo próprio aplicativo com convite para participar de uma enquete anônima sobre HIV e prevenção. Ao final do questionário, eles eram convidados a visitar o site do UNAIDS Brasil para obter mais informações sobre HIV, PreP e prevenção combinada. A enquete utilizou como base o questionário já implementado pelo Hornet em 2016 em parceria com o Centro Europeu para Controle e Prevenção de Doenças (ECDC).
A oferta da PreP foi recentemente incorporada pelo Ministério da Saúde, tornando o Brasil o primeiro país da América Latina a adotar a dispensa do medicamento como parte de uma política pública de prevenção combinada. Em entrevista ao jornal The New York Times, publicada no dia 12/12, a Diretora do UNAIDS no Brasil, Georgiana Braga-Orillard, destacou que “com a incorporação da PreP, o Brasil está agora oferecendo todas as estratégias de prevenção recomendadas pelo UNAIDS.” Segundo ela, “esta é uma operação de larga escala e o Brasil pode se tornar um exemplo para todos os países da América Latina de que precisamos ver uma abordagem integrada.”
Dados divulgados pelo Ministério da Saúde no último dia 1º de dezembro apontam que é exatamente na faixa etária mais jovem que a epidemia tem crescido mais. Entre jovens do sexo masculino, de 2006 a 2016, a taxa de detecção de casos de AIDS na faixa etária de 15 a 19 anos quase que triplicou (de 2,4 para 6,7 casos por 100 mil habitantes), registrando um aumento de 175%. Entre os jovens de 20 a 24 anos, a taxa mais que dobrou (de 16 para 33,9 casos por 100 mil habitantes), com um aumento de 111%.
Os dados da enquete Hornet-UNAIDS demonstraram ainda que a internet foi a principal fonte de informação sobre PreP entre os respondentes. Quando perguntados onde ouviram falar sobre PreP, a maioria (71%) respondeu que foi na internet, incluindo sites, facebook e aplicativos de relacionamento como o Hornet.
“Os aplicativos de redes sociais gays se tornaram uma fonte vital de informações úteis sobre saúde para homens gays em todo o mundo. Eles permitem que homens gays troquem informações e possam ajudar a aliviar o isolamento causado pelo estigma e pelo HIV”, destaca Alex Garner, Estrategista Sênior de Inovação em Saúde do Hornet. Garner conta que o aplicativo tem realizado diversas ações de conscientização sobre a PreP entre seus usuários, incluindo campanhas informativas, entrevistas com especialistas e ferramentas no próprio aplicativo.
Os resultados da enquete também indicaram que uma parte importante dos usuários deseja utilizar a PreP como forma de prevenção:
Apesar de a PreP não estar disponível no SUS no momento da pesquisa—realizada entre setembro e outubro de 2017—, 167 entrevistados (7%) responderam estar tomando PreP. Entre estes, mais da metade (55%) estavam tomando PreP como parte de um projeto de pesquisa e outros 20% compraram PreP pela internet.
Os resultados da enquete indicam também uma situação de alta vulnerabilidade ao HIV entre os homens gays que responderam ao questionário. Em relação ao acesso à testagem, um em cada cinco disseram não ter se testado para alguma IST nos 12 meses anteriores à pesquisa. Entre os que se testaram, 27% tiveram diagnóstico positivo para alguma IST. Além disso, 10% responderam ter utilizado alguma droga estimulante durante o sexo nos três meses anteriores à pesquisa. Aproximadamente 28% de todos os entrevistados declaram ser HIV positivos.
“A epidemia do HIV no Brasil continua atingindo desproporcionalmente gays e outros homens que fazem sexo com homens, assim como pessoas trans e profissionais do sexo”, destaca a Diretora do UNAIDS no Brasil. “A PreP não representará sozinha uma solução mágica para este problema, mas a sua oferta representa, seguramente, uma oportunidade excelente para reforçarmos as ações de prevenção do HIV entre as populações-chave, a partir da perspectiva de prevenção combinada.”
Veja aqui os principais resultados da enquete Hornet-UNAIDS, no Brasil.