O engajamento dos jovens na resposta ao o HIV e à AIDS é essencial para alcançar o fim da epidemia de AIDS até 2030, uma meta assumida pelos Estados-Membros da ONU em junho de 2016, durante a Reunião de Alto Nível da Assembleia Geral da ONU sobre o Fim da AIDS.
Estimativas do UNAIDS, com base em informações fornecidas por mais de cem países ao redor do planeta, indicam que jovens com idades entre 15 e 24 anos representam mais de um terço de todas as novas infecções na população com mais de 15 anos. E o dado mais chama atenção é o de crescimento da epidemia entre jovens homens gays e outros homens que fazem sexo com homens – terminologia estatística que inclui também bissexuais, travestis e mulheres trans.
“Há vários anos temos trabalhado a temática da juventude como uma das prioridades para a resposta ao HIV no Brasil e no mundo”, explica Georgiana Braga-Orillard, Diretora do UNAIDS no Brasil. “E a única forma de sensibilizarmos os jovens é falar a mesma linguagem, dentro dos mesmos ambientes em que eles se encontram. Como temos um déficit de educação sexual nas escolas e dentro de casa, sabemos que boa parte desse aprendizado e desse diálogo se dá hoje nas redes sociais, em especial no Youtube.”
Ainda segundo Georgiana, é preciso incentivar a utilização de plataformas digitais para conscientizar e mobilizar a população sobre o HIV/AIDS, desde as formas de prevenção até a importância da adesão ao tratamento e à colaboração para a construção de uma sociedade livre do estigma e da discriminação que ainda afeta a maioria das pessoas vulneráveis à epidemia.
Os jovens utilizam, cada vez mais, as redes sociais para falar abertamente e sem preconceitos sobre temas considerados tabus, como sexualidade, identidade de gênero, HIV, raça e tantos outros. Canal das Bee,Põe na Roda, Mandy Candy e Sensualise Moi são exemplos de canais do Youtube que tratam, com uma linguagem jovem e despreocupada, de temas relacionados ao universo LGBTI+. Nessa mesma onda, canais dedicados à temática do HIV e da AIDS também têm ganhado espaço e prestado um serviço importante de informação, educação e sensibilização de milhões de jovens.
Entre eles estão os canais HDiário, de de Gabriel Comicholi, e Prosa Positiva, de Daniel Fernandes. Nesse universo, eles dividem espaço e atenção com canais como Chá dos 5, Projeto Boa Sorte e Vida Positiva, que também tratam do HIV de forma jovem, livre de preconceitos, acessível e descontraída.
Desde o início do ano, o UNAIDS tem se aproximado desses influenciadores para formar parcerias e incentivar que continuem tratando de temáticas importantes para a resposta ao HIV. Na última sexta-feira (20/1), foi a vez dos vloggers Gabriel Comicholi (HDiário) e Daniel Fernandes (Prosa Positiva) visitarem o escritório do Programa Conjunto em Brasília. O objetivo: discutir sobre a importância dessa mobilização espontânea nas redes sociais, sobre o papel e as responsabilidades desses novos “ativistas digitais” e a interação com protagonistas atuais da resposta à epidemia no Brasil, como organismos internacionais, governos e sociedade civil envolvida no tema de HIV e AIDS.
“Eu acho que esse canal direto entre o UNAIDS e nós youtubers jovens é muito importante porque são trabalhos que se complementam”, disse Comicholi durante o encontro. “Nos meus vídeos, que são bastante informais, eu trago o lado social e as minhas vivências pessoais com o HIV, e o UNAIDS traz dados e informações importantes que nos ajudam a complementar isso”, complementa.
Com cerca de 25 mil inscritos no canal, Comicholi ganhou atenção nas redes com seu primeiro vídeo – o de maior número de visualizações – chamado “#DESCOBERTA”, no qual relata sua experiência de receber o diagnóstico positivo para o HIV. O vídeo chamou tanta atenção que o rapaz curitibano foi parar recentemente no programa “Altas Horas”, da TV Globo.
Daniel Fernandes, do Canal Prosa Positiva, vive com o vírus há mais tempo que Comicholi, desde 2011. Ele destaca que os canais sobre o tema são complementares e trazem informações importantes para diferentes tipos de público, porque abordam o tema de maneira bastante distinta.
No caso desses dois vloggers, o HDiário faz uma espécie de relato das experiências e vivências cotidianas, enquanto o Prosa Positiva se propõe a conversas, sempre com um convidado, sobre temas relacionados ao HIV, desde literatura até discriminação, relacionamentos e questões médicas. No caso de Fernandes, o vídeo mais acessado, com 2.106 views, é o Despertar da Força Positiva, no qual inaugura o canal e apresenta a si mesmo.
“Como o próprio nome do canal já diz – Prosa Positiva – nossa ideia é ter sempre um bate-papo que seja instrutivo, que traga lições técnicas sobre o HIV, mas também lições de vida. Nosso objetivo é instruir e apoiar as pessoas que buscam esse tipo de informação”, explica Fernandes.
“É importante engajar cada vez mais jovens na resposta ao HIV”, destaca Georgiana. “Os números mostram aumento significativo nas novas infecções por HIV entre 15 e 24 anos e nosso desafio é reformular essa comunicação, com a linguagem que realmente chegue a esses jovens. Esses talentos online fazem isso naturalmente, alcançando um público importante com suas mensagens.”
Comicholi e Fernandes estiveram em Brasília por conta de sua participação no “Seminário Internacional de Juventudes e Enfrentamento do HIV/AIDS: construindo caminhos da prevenção e formando advogados em PrEP no Brasil”, realizado pela ONG Vida em Movimento de 18 a 21 de janeiro.