Às vésperas da reunião do G20, na China, a Revista G7G20.com publicou uma entrevista com o Diretor Executivo do UNAIDS, Michel Sidibé, sobre as perspectivas e desafios para alcançarmos o fim da epidemia de AIDS até 2030.
A revista é fruto de uma parceria entre os Grupos de Pesquisas G7 e G20 da Munk School of Global Affairs, da Universidade de Toronto (Canadá).
Confira abaixo a entrevista na íntegra, com tradução livre feita pela equipe do UNAIDS no Brasil.
Nós temos as ferramentas e o conhecimento
científico necessários para acabar com a AIDS.
Essa pode ser a nossa última chance.
Q: A epidemia de AIDS ainda ameaça as previsões para uma economia mundial inovadora, revigorada, interligada e inclusiva?
A: Na última década, o mundo fez enorme progresso rumo ao fim da AIDS. Nos últimos anos, o número de pessoas vivendo com HIV em terapia antirretroviral aumentou cerca de um terço, chegando a 17 milhões de pessoas. Nas áreas mais afetadas do mundo, regiões Oriental e Sul do continente africano, as mortes relacionadas à AIDS caíram mais de um terço desde 2010. Na África, há mais pessoas agora em tratamento do que pessoas se tornando recém-infectadas pelo HIV. No entanto, o efeito paralisante da AIDS ainda está sendo sentido em todas as regiões, incluindo em muitos países membros do G20. A AIDS ainda prejudica a produtividade, sufoca o crescimento local e nacional e ofusca as perspectivas para a construção de economias verdadeiramente inclusivas.
Q: Como os membros do G20 podem apoiar os esforços para o fim da epidemia?
A: Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) incluem uma meta ousada, mas viável, para acabar com a epidemia de AIDS até 2030. O nosso sucesso no alcance desta meta depende inteiramente do que fizermos hoje. Precisamos Acelerar a Resposta à AIDS durante os próximos cinco anos, aumentando e reforçando os investimentos. Precisamos começar agora. Estou muito motivado com o fato de os membros das Nações Unidas terem aprovado recentemente uma Declaração Política ambiciosa na Reunião de Alto Nível da ONU sobre o fim da AIDS. A declaração inclui ações e compromissos baseados em evidências, metas a serem alcançadas até 2020 e nos coloca em um caminho mais rápido para acabar com a AIDS dentro de 15 anos. Ela pede por investimentos anuais de pelo menos 26 bilhões de dólares até 2020. Se seguirmos o roteiro estabelecido pela Declaração vamos acabar com essa epidemia. O retorno sobre os investimentos será significativo.
Precisamos da ajuda do G20 para sustentar esse momento crítico. Devemos manter a AIDS no topo da agenda da política e econômica global. Todos os dias, 6.000 pessoas são infectadas pelo HIV. A AIDS continua a ser a maior causa de morte de mulheres em idade reprodutiva e a segunda maior entre adolescentes. Temos as ferramentas e o conhecimento científico necessários para acabar com a AIDS. Se nós os desperdiçarmos, o mundo não perdoará o nosso fracasso. Essa pode ser a nossa última chance. Se mantivermos os níveis atuais de cobertura de serviços, iremos prolongar a epidemia por tempo indeterminado e, em vários países de baixa e média renda, haverá retomada da epidemia.
A África do Sul agora investe 1,5 bilhão de dólares por ano em programas de AIDS, comparado a quase nada alguns anos atrás. Hoje, cerca de 3,4 milhões de sul-africanos recebem tratamento para HIV – mais do que qualquer outro país no mundo. A África do Sul tem integrado a sua resposta à AIDS ao sistema nacional de saúde. Esse é um exemplo brilhante de como a liderança política pode ajudar a salvar vidas e a construir programas de saúde sustentáveis e integrados, abrindo o caminho para a cobertura de saúde universal e para o objetivo de segurança em saúde para todos.
Q: Existem outros ingredientes essenciais para o sucesso nos próximos cinco anos, além do dinheiro e da vontade política?
A: Trata-se de investir sabia e estrategicamente nos lugares e pessoas que gerarão maior impacto para a resposta. Os programas de AIDS estão se tornando mais eficientes todos os dias. O retorno sobre os investimentos está crescendo exponencialmente. Embora os fundos para o HIV tenham aumentado apenas 11% entre 2011 e 2014, o número de pessoas que recebem ARV (antirretrovirais) cresceu cerca de 60%.
Três ingredientes adicionais são críticos. O primeiro é a inovação. Nós precisamos de novos medicamentos, vacinas preventivas e terapêuticas, métodos de contracepção para mulheres e, finalmente, uma cura funcional – além de formas completamente novas de prestação de todos esses serviços às pessoas.
Confira a entrevista completa em inglês na página 180 da edição de setembro da revista G7G20.com.