Em um evento paralelo à Assembleia Mundial da Saúde, realizada em Genebra, na Suíça, os participantes instaram os países a acabarem com a desigualdade de gênero na resposta ao HIV, colocando mulheres e adolescentes na Resposta Acelerada para o fim da epidemia de AIDS.
Lorena Castillo de Varela, primeira-dama do Panamá e Embaixadora Especial do UNAIDS na América Latina, foi a anfitriã do evento. Ela destacou a importância de as mulheres assumirem papéis de liderança para que o desenvolvimento de programas e políticas esteja ajustado às suas necessidades.
“O acesso limitado a cuidados de saúde e à educação, juntamente com sistemas e políticas que não atendem às necessidades das jovens, são obstáculos que impedem as adolescentes e as mulheres de se proteger contra o HIV, especialmente na transição para a idade adulta” disse a Embaixadora do UNAIDS. “Para reduzir as infecções por HIV e as mortes relacionadas à AIDS, devemos promover a igualdade de gênero e o empoderamento e a autonomia das mulheres, garantindo que as meninas possam tomar decisões independentes sobre sua própria saúde e possam ser capazes de viver livres de todas as formas de violência.”
“Se quisermos o fim da epidemia da AIDS até 2030 como parte dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, o mundo deve adotar uma abordagem centrada nas pessoas, que consagre o direito das mulheres e meninas de tomarem decisões informadas sobre sua saúde e bem-estar, incluindo a sua sexual saúde e seus direitos. “
Michel Sidibé, Diretor Executivo do UNAIDS
O evento paralelo de alto nível focou em três temas: a eliminação de novas infecções por HIV entre as crianças, a prevenção do HIV entre meninas adolescentes e mulheres jovens e o acesso ao tratamento de HIV para todas as pessoas.
O envolvimento e a capacitação das mulheres como líderes, fomuladoras de políticas, implementadoras e apoiadoras de outras mulheres, associado ao aumento do acesso ao tratamento e à prevenção eficaz do HIV, tem se revelado essencial para o sucesso dos esforços globais na eliminação das novas infecções por HIV entre crianças, número que já foi reduzido em mais da metade – de 520 mil em 2000, para 220 mil em 2014 em todo o mundo. Esta abordagem abrangente e inclusiva agora tem de ser ampliada, de modo a alcançar todas as pessoas vivendo com HIV, incluindo mulheres jovens e meninas.
“Precisamos de uma abordagem combinada e holística e de intervenções que ofereçam suporte para adolescentes e mulheres”, disse a ativista de HIV do Salamander Trust, Angelina Namiba. “É crucial que as mulheres vivendo com HIV estejam significativamente e diretamente envolvidas em todas as fases dessas intervenções, desde a concepção até a prestação final de serviços.”
Globalmente, a AIDS ainda é a principal causa de morte entre mulheres em idade reprodutiva. Em 2014, foram cerca de 220 mil novas infecções pelo HIV entre adolescentes (com idades entre 15 a 19 anos) no mundo, com as meninas representando 62% deste número. A AIDS foi a principal causa de morte de jovens na África Subsariana em 2014.
Violência e desigualdade de gênero, normas de gênero nocivas, estigmatização e discriminação muitas vezes impedem as mulheres e meninas de conhecerem seu estado sorológico e de buscarem acesso aos serviços adequados de prevenção e tratamento do HIV. Estima-se que, entre as 670 mil meninas adolescentes com idade entre 15 e 19 anos que vivem com HIV, apenas uma em cada cinco sabe que é soropositva.
A abordagem de Aceleração da Resposta do UNAIDS se concentra em garantir que, até 2020, pelo menos 90% das adolescentes, mulheres jovens e dos homens (assim como outros grupos em maior risco de infecção) tenham acesso à prevenção do HIV, a serviços de saúde, a direitos sexuais e reprodutivos e que sejam capacitados e empoderados com as qualificações e os conhecimentos para se protegerem do HIV.
Além do intensificação da prevenção, a ampliação do acesso ao tratamento do HIV é crítica. A estratégia 2016-2021 do setor de estratégia de saúde global sobre o HIV da Organização Mundial da Saúde (OMS), sob discussão na Assembleia Mundial da Saúde desta semana, reitera as metas 90-90-90 de tratamento do UNAIDS de que, até 2020: 90% das pessoas vivendo com HIV estejam diagnosticadas; que 90% deste grupo esteja retido em tratamento; e que 90% das pessoas em tratamento alcancem o nível indetectável para sua carga viral.
Para que estas metas sejam alcançadas, modelos inovadores de prestação de serviços serão fundamentais a fim de garantir que adolescentes e jovens sejam diagnosticados precocemente, que tenham acesso aos serviços de saúde e que consigam aderir ao tratamento para que se mantenham saudáveis. Estes serviços devem ser acessíveis, viáveis e sensíveis às necessidades de mulheres e meninas. Outras metas da Resposta Acelerada incluem: menos de 500 mil novas infecções por ano até 2020 e zero discriminação.
Suíça e Zâmbia, que estão entre os patrocinadores do evento em Genebra, serão co-facilitadores da Reunião de Alto Nível das Nações Unidas sobre o fim da AIDS. Os dois países serão responsáveis por levar adiante o resumo dos resultados do evento paralelo da Assembléia Mundial da Saúde para ajudar a informar as discussões da Reunião de Alto Nível que acontecerá em Nova York entre 8 e 10 de junho de 2016.
Outras citações dos participantes
“O que deve mudar é a garantia de acesso às formas de prevenção, diagnóstico, cuidados e tratamento para todos, especialmente em relação às mulheres jovens e às populações mais vulneráveis.”
Adalberto Campos Fernandes, Ministro da Saúde de Portugal
“Antes de implementarmos o programa de prevenção da transmissão de mãe para filho, tivemos 70 mil infecções em crianças – número que caiu para menos de 7 mil. Apesar desta diminuição, o trabalho ainda está incompleto – temos que chegar mais próximo de zero novas infecções e estamos trabalhando duro para conseguir isso.”
Aaron Motsoaledi, Ministro da Saúde da África do Sul
“Estou certa de que todos concordam que a adolescência é um período frágil na vida de uma menina, quando as mudanças físicas, emocionais e sociais significativas começam a moldar o seu futuro. Mas a adolescência também é um ponto ideal para alavancarmos os esforços de desenvolvimento e de diplomacia, quebrando os ciclos de pobreza e violência, para mantermos as meninas na escola, investindo em seu futuro. Estou confiante de que podemos colocar as mulheres e meninas na Resposta Acelerada para o fim da epidemia de AIDS em um futuro muito próximo.”
Embaixadora Pamela Hamamoto, Estados Unidos da América
“É uma injustiça que mulheres e meninas sejam impedidas de alcançar a informação e os serviços que poderiam mantê-las livres do HIV e dar-lhes o acesso ao tratamento. Se quisermos o fim da epidemia da AIDS até 2030 como parte dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, o mundo deve adotar uma abordagem centrada nas pessoas, que consagre o direito das mulheres e meninas de tomarem decisões informadas sobre sua saúde e bem-estar, incluindo a sua sexual saúde e seus direitos. “
Michel Sidibé, Diretor Executivo do UNAIDS
“Este é um evento paralelo extremamente importante É sobre o fim da epidemia de AIDS e um grupo de trabalho muito importante: adolescentes. Se negligenciarmos esta faixa etária, não seremos capazes de alcançar o nosso objetivo de acabar com a epidemia de AIDS até 2030. Quero parabenizá-los por trabalharem não somente nesta questão, mas também na eliminação da transmissão do HIV de mãe para filho. Isso será decisivo para o fim da epidemia.” Margaret Chan, Diretora-Geral da Organização Mundial da Saúde