UNAIDS na 24a Conferência Internacional de AIDS; conheça os destaques

Entre 29 de julho e 2 de agosto aconteceu em Montreal, Canadá, a 24a. edição da Conferência Internacional de AIDS, que reuniu de forma presencial e virtual centenas de ativistas, pessoas pesquisadoras, representantes acadêmicos, científicos, de ONGs, governos e organizações multilaterais para debater os avanços e desafios na resposta global ao HIV.

O UNAIDS esteve presente liderando ou participando de sessões-chave, incluindo o lançamento do Relatório Global “Em Perigo”, que alerta para o impacto do enfraquecimento da resposta ao HIV, especialmente para as populações-chave e pessoas em situação de maior vulnerabilidade.

Veja a seguir alguns pontos de destaque da Conferência, na visão de Claudia Velasquez, diretora e representante do UNAIDS no Brasil, que fez parte da equipe da organização presente no evento.

Foco nas desigualdades

Ficou muito evidente a necessidade de se por foco em acabar com as múltiplas desigualdades que dificultam ou impedem as pessoas em situação de maior vulnerabilidade de acessar e se beneficiar das estratégias de prevenção, diagnóstico e tratamento do HIV.

A resposta às desigualdades passa também por garantir que os avanços biomédicos na prevenção e tratamento do HIV cheguem de forma rápida e igualitária a todas as pessoas que deles possam se beneficiar, particularmente aquelas que vivem em condições de vulnerabilidade.

“Neste sentido, o lançamento do relatório do UNAIDS foi muito oportuno ao trazer luz sobre a urgência de se impedir o enfraquecimento da resposta ao HIV que vimos acontecer ao longo dos últimos anos. Acabar com a AIDS como ameaça à saúde pública é possível e está em nossas mãos, porém temos de agir agora”, ressalta Claudia Velasquez.

Racismo e descolonização

Houve um chamado intenso de diversas lideranças e ativistas para a necessidade de se dar uma resposta efetiva ao racismo estrutural e de se buscar uma descolonização da resposta ao HIV, a fim que os países de baixa e média renda tenham papel de liderança na resposta ao HIV e que as inovações não se concentrem inicialmente nos países mais ricos antes de chegarem aos que mais precisam.

As dificuldades que representantes de organizações de países de baixa e média renda tiveram para obter vistos para participar da Conferência foi apontada em diversas ocasiões como um claro sinal desta desigualdade e discriminação e foram alvo de protestos na abertura da Conferência.

Protesto contra dificuldade de obter vistos para participar da Conferência. 24a Conferência Internacional de AIDS, Montreal, Canada. Foto: Marcus_Rose_IAS

“Ativistas e representações de países de baixa e média renda expressaram seu desejo de ter voz e participação mais equitativa na forma como as inovações são implementadas em seus países. O que se quer é mais colaboração e parcerias efetivas e que as organizações e comunidades locais sejam quem lideram a resposta em seus próprios contextos”, diz Claudia Velasquez.

Acesso às inovações biomédicas

Em várias sessões ficou demonstrado que os medicamentos antirretrovirais são uma ferramenta poderosa para prevenir e tratar a infecção pelo HIV, o que fortalece o argumento do tratamento como estratégia também de prevenção.

Neste contexto, ficou muito fortalecida a abordagem do indetectável igual a intransmissível, o “I=I”, ou seja, o conceito de que uma pessoa vivendo com HIV em tratamento antirretroviral alcança uma carga viral indetectável e que, a partir disso, o vírus torna-se intransmissível. Falou-se muito que faltam mais campanhas para consolidar esta mensagem junto à sociedade.

Um momento importante da Conferência foi o anúncio do acordo com a farmacêutica ViiV de liberar licenças para fabricação genérica de profilaxia pré-exposição (PrEP) injetável, que traz mais opções para que as pessoas possam se prevenir para o HIV, para 90 países.

Winnie Byanyima na abertura da Conferência Internacional de AIDS. Foto: Steve Forrest/Workers Photos/IAS

“Isso pode ser um divisor de águas, mas é preciso que a ViiV forneça agora os medicamentos a preço acessível para países de baixa e média renda, uma vez que levará ainda alguns anos até que a produção dos medicamentos genéricos esteja em escala para chegar a todas as pessoas. É preciso também que estas licenças para a produção de genéricos vão além dos 90 países previstos no anúncio original”, alertou Winnie Byanyima.

Apoio à participação da sociedade civil

A sociedade civil teve uma participação ativa em sessões da Conferência e na Global Village, um espaço aberto para encontros, conversas informais e atividades culturais. O UNAIDS apoiou a participação de representantes e organizações da sociedade civil disponibilizando salas para que pudessem organizar reuniões como, por exemplo, o encontro regional da rede latino-americana de adolescentes e jovens vivendo com HIV.

“Seria importante ter tido mais sessões principais da Conferência lideradas pela sociedade civil”, comenta Claudia Velasquez. “A Global Village, por sua vez, providenciou um espaço fantástico para workshops e conversas informais, e também permitiu um grande networking entre representantes da sociedade civil de diversos países e regiões, especialmente entre América Latina e África, que tiveram a oportunidade de se reunir fisicamente e trocar ideias e experiências.”

Zero discriminação

O UNAIDS Brasil se fez presente também na Conferência com a apresentação do curso online Zero Discriminação e HIV/AIDS, desenvolvido em parceria com a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e do Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS). O curso, lançado em setembro de 2021, conta com mais de 1.500 participantes, principalmente profissionais de atuam na resposta ao HIV.

Seus resultados e impacto foram apresentados por Daniel Canavese, professor da Saúde Coletiva da UFRGS e do GT Saúde LGBTI+ da Abrasco. Ele também liderou a apresentação na Global Village, espaço de atividades culturais da Conferência de AIDS, do curta metragem “Uma Carta Insone”, desenvolvido especialmente para o curso e que faz uma reflexão sobre estigma e discriminação.

“As apresentações do curso online Desigualdade e HIV e do curta Uma Carta Insone foram duas oportunidades de levar para um espaço de interação que reuniu múltiplas vozes de todo o mundo estas ações genuinamente brasileiras de enfrentamento às barreiras sociais que afetam diretamente as populações-chave e prioritárias mais vulneráveis”, ressalta Daniel Cavanese. “Também foi muito importante compartilhar a experiência de parcerias intersetoriais estimuladas pelo UNAIDS Brasil para dar uma resposta conjunta no enfrentamento da epidemia de HIV”, finaliza.

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