Empreendedorismo social: Uma ferramenta para autoempoderar a comunidade LGBTI+

O impacto econômico da pandemia de COVID-19 nas pessoas da comunidade LGBTI+ tem sido enorme. Uma pesquisa de 2020 com mais de 20 mil pessoas LGBTI+ de 138 países mostrou que muitas haviam perdido seus empregos por causa da pandemia. Além disso, membros da comunidade sofreram com mais episódios de discriminação, crimes de ódio e prisões. A criminalização, combinada com o estigma e a discriminação de pessoas LGBTI+ em alguns países, têm dificultado sua capacidade de buscar apoio econômico e em serviços essenciais saúde.

Várias das 23 ONGs beneficiadas pelo Fundo Solidário do UNAIDS no Brasil, Gana, Índia, Madagascar e Uganda estão apoiando organizações LGBTI+ na construção de capacidades econômicas e no estímulo ao impacto social para suas respectivas comunidades por meio de diversos projetos de empreendedorismo social.

A Uganda possui mais de 1,5 milhão de pessoas refugiadas. No país, as relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo são ilegais, e ser uma pessoa refugiada gera uma série de outros desafios, sendo a exclusão social um deles. Além disso, a pandemia de COVID-19 destruiu os meios de sustento de muitas pessoas de populações-chave que buscaram refúgio em Uganda.

Uganda

Por meio de uma doação do Fundo Solidário, a Simma Africa Creative Arts Foundation criou o Projeto Rainbow Drip Craft Shop, que comercializa bens criativos e culturais, incluindo joias com contas finas e de latão, sapatos artesanais de couro feitos à mão e roupas de tecido Ankara, tradicionais da cultura africana, feitas por pessoas LGBTI+, adolescentes e jovens mulheres provenientes de campos que abrigam pessoas refugiadas e de comunidades anfitriãs. “A loja [onde são vendidos os produtos] se tornou um espaço seguro e uma saída criativa para a comunidade canalizar suas habilidades e talentos na construção de meios de sobrevivência autossustentáveis”, diz Natasha Simma, da Simma África.

A Vijana Na Children’s Foundation (VINACEF Uganda), por sua vez, que trabalha também com as comunidades Ugandesas LGBTI+ e de profissionais do sexo, criou um salão administrado pela comunidade que oferece diversos serviços de tratamento de beleza. Cerca de 80 pessoas integradas à comunidade foram ligadas a serviços sociais e treinadas em empreendimentos sociais e gestão financeira.

“O projeto de empreendedorismo social aumentou o envolvimento da comunidade e fortaleceu a capacidade das comunidades LGBTI+ e de profissionais do sexo, ao mesmo tempo em que lhes permitiu adquirir e praticar novas habilidades para obter uma renda sustentável”, diz Bernard Ssembatya, diretor-executivo da VINACEF Uganda.

Simma montou a loja de artesanato Rainbow Drift Craft que apoia mulheres e adolescentes LGBTI+ e jovens mulheres refugiadas e provenientes de comunidades de acolhimento em Uganda. A loja comercializa bens criativos e culturais, incluindo joias e sapatos artesanais, além de roupas de tecido Ankara.

Inspirada por esta iniciativa, a VINACEF Uganda está formando uma rede de salões para melhorar o acesso à informação sobre HIV, direitos sexuais e reprodutivos, tuberculose, câncer e doenças não transmissíveis para participantes da comunidade.

Brasil

Da mesma forma no Brasil, aproveitando talentos da comunidade LGBTI+ e profissionais do sexo no tratamento da beleza, a Associação Social Anglicana de Solidariedade do Cerrado (Casa A+) implementou o Projeto Empodera Mais.

Bispo Anglicano Maurício Andrade, fundador da Casa A+, e Jéssica Lorraine Ferreira Barros, uma das beneficiárias do projeto EmpoderaMais.

“Motivamos pessoas em situação de vulnerabilidade a participar do projeto de empreendedorismo social por meio do fornecimento do Kit Empodera Mais, com equipamentos básicos e suprimentos para o ingresso na profissão de cabeleireira e de tratamento de beleza”

Maurício Andrade, Bispo Anglicano e fundador da Casa+

As habilidades técnicas proporcionaram e encorajaram as participantes no projeto a iniciar negócios em tratamento de beleza que lhes garantiram meios de fazer frente às dificuldades trazidas pela pandemia de COVID-19. As parcerias técnicas com profissionais, um estúdio de beleza e instituições como a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Humano de Palmas (TO) proporcionaram às participantes uma experiência prévia antes de lançarem seus próprios empreendimentos e geraram uma rede profissional para trocar experiências e conseguir novos negócios.

Gana

Em Gana, a Hope Alliance Foundation e a Iniciativa OHF lançaram o Programa de Empoderamento Econômico Comunitário para criar empreendimentos sociais liderados por pessoas vivendo com HIV e LGBTI+ a fim de obterem recursos que lhes permitissem enfrentar os desafios complexos relacionados à situação política e à pandemia de COVID-19. A iniciativa forneceu treinamento de habilidades vocacionais para a produção de alimentos e produtos de higiene para 30 jovens, além de apoiar a criação de empreendimentos sociais em design de moda e a reforma e renovação de 10 pequenas empresas selecionadas e afetadas adversamente pela COVID-19.

Índia

Na Índia, a plataforma online de artistas Nachbaja.com foi criada para superar os desafios da discriminação, remuneração injusta e segurança de artistas da comunidade LGBTI+. Enquanto isso, o Gaurav Trust abriu suas portas para que integrantes fizessem parte de um salão de beleza liderado pela comunidade, La Beauté and Style, e mobilizou fundos adicionais para sustentabilidade e escalabilidade.

As histórias de crescimento continuam com Let’s Walk Uganda, cujo projeto Jump Start foi estabelecido para apoiar pequenas empresas de moda, design e produção de sabão líquido lideradas por homens gays e outros homens que fazem sexo com homens.

A equipe da start-up La Beaute and Style, criada pelo Gaurav Trust e liderada por pessoas trans, reúne-se com Laxmi Narayan Tripathi e Aryan Pasha, integrantes da diretoria da Gaurav Trust. Para manter a visão de criar um espaço seguro e um ambiente de trabalho confortável, 70% das pessoas empregadas no salão La Beauté and Style farão parte da comunidade trans.

Participantes da comunidade demonstraram sua capacidade de crescer, ampliar a escala e diversificar seus empreendimentos, reinvestindo com sucesso a receita do primeiro lote de produtos vendidos em novos empreendimentos empresariais. Isto levou ao desenvolvimento e lançamento do aplicativo Stall App, apoiado pelo UNAIDS, que ajuda a impulsionar a venda de produtos desenvolvidos por vários empreendimentos liderados pela comunidade, incluindo outros beneficiários do Fundo Solidário.

“Devemos reconhecer que enquanto o resto do mundo se recupera do impacto econômico da pandemia de COVID-19, seus efeitos durarão mais tempo para as comunidades em situação de vulnerabilidade. Portanto, é da maior importância continuar a apoiar empreendimentos sociais inovadores liderados pela comunidade, concebidos para gerar recursos e superar desafios especiais”, diz Pradeep Kakkattil, diretor de Inovação do UNAIDS.

O fortalecimento da autoconfiança e da dignidade da comunidade LGBTQIA+ deve ser fundamentada em iniciativas lideradas por ela mesma, com foco no enfrentamento das desigualdades. Um fio comum que liga os diversos empreendimentos apoiados pelo Fundo Solidário é o empenho das pessoas da comunidade LGBTQIA+ diante das dificuldades. As pessoas beneficiadas demonstraram o potencial de empoderamento por meio da arte, criatividade e habilidades profissionais apoiadas pelo financiamento inicial do Fundo. Reconhecer e abraçar a diversidade na orientação sexual e identidade de gênero em todas as áreas é crucial para tornar a comunidade visível, protegendo-a do estigma, discriminação e violência, e engajando-a na resposta a pandemias.

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