UNAIDS alerta sobre milhões de mortes relacionadas à AIDS e os contínuos danos por causa das pandemias se as lideranças não enfrentarem as desigualdades

O UNAIDS emitiu hoje um aviso contundente de que se as lideranças mundiais não conseguirem abordar as desigualdades, o mundo poderá enfrentar 7,7 milhões* de mortes relacionadas à AIDS nos próximos 10 anos. O UNAIDS adverte, ainda, que se as medidas transformadoras necessárias para acabar com a AIDS não forem tomadas, o mundo também ficará preso na crise de COVID-19 e permanecerá perigosamente despreparado para as pandemias que estão por vir.

“Este é um chamado urgente à ação”, disse Winnie Byanyima, diretora executiva do UNAIDS. “O progresso relacionado à pandemia da AIDS, que já estava fora do caminho, está agora sob uma tensão ainda maior à medida que a crise de COVID-19 continua em fúria, interrompendo os serviços de prevenção e tratamento do HIV, a escolaridade, os programas de prevenção da violência e muito mais. Não podemos ter que escolher entre acabar com a pandemia de AIDS hoje e preparar-nos para as pandemias de amanhã. A única abordagem bem-sucedida alcançará ambas. A partir de agora, não estamos no caminho certo para alcançar nenhuma das duas [pandemias]”.

O alerta vem no novo relatório do UNAIDS (em inglês): “Desiguais. Despreparados. Ameaçados: por que são necessárias ações ousadas para acabar com a AIDS, interromper a COVID-19 e preparar respostas a futuras pandemias”, lançado antes do Dia Mundial da AIDS.

Alguns países, inclusive alguns com os mais altos índices de HIV, fizeram progressos notáveis contra a AIDS, mostrando que esse é um caminho viável. Entretanto, o número de novas infecções por HIV não está caindo suficientemente rápido para deter a pandemia, que em 2020, registrou 1,5 milhão de novas infecções por HIV com taxas crescentes em alguns países. O número de infecções também é afetado pelas desigualdades. Seis em cada sete novas infecções por HIV África subsaariana ocorrem nas adolescentes. Homens gays e outros homens que fazem sexo com homens (HSH), profissionais do sexo e pessoas que usam drogas enfrentam um risco de 25 a 35 vezes maior de adquirir o HIV em todo o mundo.

A COVID-19 está diminuindo a resposta à AIDS em muitos lugares. O ritmo dos testes de HIV diminuiu quase uniformemente e em 40, dos 50 países que se reportaram ao UNAIDS, menos pessoas vivendo com HIV iniciaram o tratamento. Os serviços de prevenção ao HIV foram impactados—em 2020, os serviços de redução de danos para pessoas que usam drogas foram interrompidos em 65% dos 130 países pesquisados.

“Ainda é possível acabar com a epidemia até 2030”, afirmou o Secretário Geral das Nações Unidas, António Guterres, em sua mensagem do Dia Mundial da AIDS. “Mas isso exigirá uma ação intensificada e maior solidariedade. Para vencer a AIDS—e construir resistência contra as pandemias de amanhã—precisamos de ação coletiva”.

Este novo relatório do UNAIDS aborda cinco elementos críticos do plano acordado pelos Estados-Membros na Reunião de Alto Nível da Assembleia Geral das Nações Unidas sobre AIDS, que devem ser implementados urgentemente para deter a pandemia de AIDS e que são críticos, mas subfinanciados e subpriorizados para a prevenção, preparação e resposta à pandemia. Estes incluem:

  • Infraestrutura liderada pela comunidade e baseada na comunidade;
  • Acesso equitativo a medicamentos, vacinas e tecnologias de saúde;
  • Apoio a profissionais na linha de frente da pandemia;
  • Os direitos humanos no centro das respostas a pandemias;
  • Sistemas de dados centrados nas pessoas que destacam as desigualdades.

O apelo para investimentos de maior escala e mudanças nas leis e políticas para acabar com as desigualdades que impulsionam a AIDS e outras pandemias é apoiado por lideranças em saúde global e resposta a pandemias de todo o mundo.

“Se não tomarmos as medidas necessárias para combater as desigualdades que impulsionam o HIV hoje, não só não conseguiremos acabar com a pandemia de AIDS, como também deixaremos nosso mundo perigosamente despreparado para futuras pandemias”, disse Helen Clark, copresidente do Painel Independente de Preparação e Resposta à Pandemia, em um prefácio especial ao relatório do UNAIDS. “As pandemias encontram espaço para crescer nas fraturas das sociedades divididas. Profissionais incríveis da ciência, medicina, enfermagem e das comunidades que trabalham para acabar com as pandemias não podem ter sucesso a menos que as lideranças mundiais tomem as medidas que lhes permitam fazê-lo”.

UNAIDS e especialistas globais em saúde enfatizam que, enquanto os negócios e comércio, como sempre, matariam milhões e deixariam o mundo preso à colisão de pandemias durante décadas, as lideranças podem, agindo de forma corajosa e conjunta, enfrentar as desigualdades nas quais as pandemias prosperam, acabar com a AIDS, superar a crise da COVID-19 e se protegerem das ameaças pandêmicas do futuro.

“Patógenos que vão do HIV ao vírus por trás da COVID-19 invadem as brechas e fissuras da nossa sociedade com surpreendente oportunismo”, disse Paul Farmer da Partners in Health, uma organização sem fins lucrativos que durante décadas tratou efetivamente a AIDS em contexto de extrema pobreza. “Que a pandemia de AIDS é moldada por profundas desigualdades estruturais não precisa nos conformar à inação, no entanto, nossas equipes, na área rural do Haiti e em todo o mundo, têm demonstrado rotineiramente que com a prestação de cuidados abrangentes, formas robustas de acompanhamento e apoio social e uma dose maior de justiça social, as disparidades nos resultados do HIV podem ser rapidamente reduzidas, e os sistemas de saúde podem ser rapidamente fortalecidos. Não devemos nos contentar com nada menos que isso”.

Este ano marca 40 anos desde que os primeiros casos de AIDS foram registrados. Desde então, onde os investimentos atingiram as metas, houve um enorme progresso, particularmente na expansão do acesso ao tratamento. Em junho de 2021, 28,2 milhões de pessoas tinham acesso ao tratamento do HIV, em comparação a 7,8 milhões em 2010, embora o progresso tenha diminuído consideravelmente.

Países com leis e políticas baseadas em evidência, forte envolvimento e participação da comunidade e sistemas de saúde sólidos e inclusivos tiveram os melhores resultados, enquanto as regiões com as maiores lacunas de recursos e países com leis punitivas e que não adotaram uma abordagem baseada em direitos à saúde, tiveram os piores resultados.

“Sabemos o que funciona ao vermos respostas brilhantes à AIDS em alguns lugares”, disse Winnie Byanyima, “mas precisamos aplicar isso em todos os lugares para todas as pessoas. Temos uma estratégia eficaz que as lideranças adotaram este ano, mas ela precisa ser implementada na íntegra. Acabar com as desigualdades para acabar com a AIDS é uma escolha política que requer reformas políticas ousadas e requer dinheiro. Chegamos a uma encruzilhada no caminho. As lideranças precisam escolher entre agir ousadamente ou tomar medidas incompletas”.

*A estimativa de 7,7 milhões de mortes relacionadas à AIDS entre 2021 e 2030 é o que estudos de modelagem do UNAIDS preveem se a cobertura dos serviços de HIV for mantida constante nos níveis de 2019. Se a Estratégia Global de AIDS 2021-2026: “Acabar com as Desigualdades, Acabar com a AIDS” for executada e as metas de 2025 forem atingidas, o UNAIDS estima que pelo menos 4,6 milhões dessas mortes podem ser evitadas durante a década.

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