Nos 40 anos da pandemia de AIDS, Paradas do Orgulho LGBT de São Paulo trazem o HIV como tema para acabar com o estigma e a discriminação

Ame +, Cuide +, Viva + Esta foi a convocação deste ano da maior Parada do Orgulho LGBTIQIA+ do mundo, organizada na cidade de São Paulo. A Parada convidou a comunidade LGBTQIA+ e a sociedade a repensar a história de nossa própria comunidade e a necessidade urgente de acabar com o estigma e a discriminação relacionados ao HIV.

Pela primeira vez em seus 25 anos de existência, a organização do evento decidiu adotar HIV/AIDS como tema, promovendo uma oportunidade significativa para mudar a forma como a comunidade LGBTI + se relaciona com a pandemia de AIDS após décadas de estigma e discriminação.

“No Brasil, há cerca de 920 mil pessoas vivendo com HIV e a AIDS mata dez vezes mais a população LGBTIQIA+ do que a violência”, destaca Ariadne Ribeiro Ferreira, Assessora de Apoio Comunitário do UNAIDS. “A prevalência da infecção por HIV entre gays e outros homens que fazem sexo com homens é de 18%. Já na população de travestis e pessoas trans chega a 30%. Mas quando falamos na população geral a prevalência está em 0,4%. Por isso é tão importante a comunidade LGBTIQIA+ abraçar o tema a fim de superarmos o estigma e a discriminação associados ao HIV”, completa Ariadne.

Parada do Orgulho LGBT de São Paulo

Em vez de mobilizar a habitual multidão de mais de 3 milhões de pessoas ao longo da Avenida Paulista, a Parada foi realizada virtualmente pelo segundo ano consecutivo devido à pandemia de COVID-19. O evento foi transmitido no canal do Youtube da Parada e de 10 influencers LGBTIQIA+ (Lorelay Fox, Spartakus, Nátaly Neri, Mandy Candy, Bielo, Louie Ponto, Jean Luca, Tchaka e Alberto Pereira Jr e Lucas Raniel – dois deles vivendo com HIV) e acumulou 4,1 milhões de visualizações em junho, com mais de 41 mil pessoas assistindo simultaneamente à transmissão ao vivo.

A Parada SP também esteve no primeiro lugar dos trending topics do Brasil no Twitter durante todo o dia e contou com shows de Gloria Groove, Majur, Pepita, Lia Clark, Sandra de Sá, Maria Gadú, Mateus Carrilho e Pabllo Vittar.

Lucas Raniel, influenciador que vive com HIV e uma das pessoas que apresentou a Parada do Orgulho LGBT de São Paulo, e Linn da Quebrada, cantora e atriz

“Muitas pessoas da população LGBTIQIA+ ainda são resistentes em falar sobre HIV/Aids, alegando ter receio de fomentar o estigma de que o HIV/Aids afeta apenas as pessoas LGBTIQIA+. Porém, penso que, de forma direta ou indireta, o silêncio e a escolha em não falar são motores que colaboram para o avanço dessa epidemia que já dura quatro décadas”, explica Matheus Emílio Pereira da Silva, membro da Diretoria na Associação da Parada do Orgulho LGBT de SP.

Parceria UNAIDS Brasil e Associação da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo

Há quatro anos, o UNAIDS mantém parceria com a Associação da Parada do Orgulho de Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transgêneros de São Paulo (APOLGBT -SP), ONG responsável pela organização e realização da Parada do Orgulho LGBT de SP, na organização de seminários e workshops voltados para a comunidade LGBTIQIA+ a fim de discutir a necessidade urgente de acabar com o estigma e a discriminação relacionados às pessoas que vivem com HIV e às pessoas mais expostas ao risco de adquirir o vírus.

Esses esforços têm ajudado redes de pessoas vivendo com HIV e organizações parceiras na resposta à epidemia a defender a adoção do tema de HIV/AIDS na edição de 2021 da Parada do Orgulho LGBT. Neste ano se recorda 40 anos dos primeiros diagnósticos de casos de AIDS.

André Canto é diretor e criador do documentário da Netflix “Cartas para Além dos Muros”, que expõe o estigma e a discriminação como produtos de uma sociedade que insiste em manter marginalizadas as pessoas que vivem com HIV. Ele teve um papel importante neste processo, defendendo a adoção do tema HIV/AIDS pelos membros da Parada durante uma sessão de votação em janeiro de 2020.

“Enquanto comunidade, nós, LGBTQIA+, temos de trazer esse tema para roda de conversa. Precisamos assumir, para a gente, que temos de estar atentos às políticas públicas de saúde para pessoas vivendo com HIV/AIDS, de prevenção ao HIV e à AIDS e políticas públicas que pensam a saúde sexual da população LGBTIQIA+”, diz André Canto. “E o mais importante: a nossa primeira preocupação deve ser acolher as pessoas que vivem com HIV/AIDS. Essa população merece ser acolhida, amada e respeitada. Então, o acolhimento é fundamental também e é de responsabilidade da comunidade LGBTQIA+”.

Criação do tema e slogan

Assim que o tema foi adotado, o UNAIDS se uniu à Associação da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo para apoiar a mobilização de uma equipe criativa para desenvolver a identidade visual e o slogan do desfile. A equipe envolveu profissionais de marketing e comunicação LGBT, como o cineasta André Canto, o publicitário e consultor de comunicação Bruno Couto, o também publicitário e sócio-fundador das agências Yone e Box1824 Rony Rodrigues, a consultora em criatividade, inovação e humanidade para marcas Cristina Naumovs, a arquiteta e criadora do clube de leitura no Instagram Críticas Instantâneas Patrícia Ditolvo, a ativista travesti negra e criadora da Casa Neon, Neon Cunha.

Esse processo colaborativo resultou no slogan “Ame +, Cuide +, Viva +”, fazendo uma referência sobre a necessidade de falar sobre HIV/AIDS além da forma punitiva e de prevenção, acolhendo e amando as pessoas que vivem com HIV e sobre o quão diferente é viver com HIV hoje em comparação com os anos 80 e 90.

“O principal desafio foi ajudar a dissociar a comunidade LGBT do estigma e da discriminação relacionados com o HIV que nos são impostos desde os anos 80. Também queríamos celebrar a vida, a alegria, o autocuidado e o amor, elementos-chave para todas e todos, principalmente dentro da comunidade LGBT, que ainda enfrenta constantes violações de seus direitos”, explica Daniel de Castro, Assessor Regional de Comunicação e Advocacy para a América Latina e Caribe, e um dos membros LGBTIQIA+ desta equipe criativa.

Após a decisão da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo, pelo menos outras 17 paradas em cidades de São Paulo já decidiram adotar o HIV/AIDS como tema.

“Enfrentar as desigualdades e a discriminação é fundamental para acabar com a AIDS até 2030 e é neste contexto que o UNAIDS apoia iniciativas como a da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo. O Índice de Estigma em relação às pessoas vivendo com HIV/AIDS, pesquisa realizada em 2019 pelo UNAIDS em parceria com as redes de pessoas vivendo com HIV, indica que 64% das pessoas entrevistadas já́ sofreram alguma forma de estigma ou discriminação pelo fato de viverem com HIV ou com AIDS”, diz Claudia Velasquez, Diretora e Representante do UNAIDS no Brasil. “É muito importante que as pessoas conversem sobre HIV e AIDS sem preconceitos e de forma aberta, no almoço, na roda de amigos ou no trabalho. Dessa forma, conseguimos transformar o mundo em um espaço mais justo, menos desigual e menos preconceituoso.”

Leve o tema “HIV/AIDS: ame+, cuide+, viva+” para a Parada do Orgulho da sua cidade

Impulsionado pelo alcance da Parada do Orgulho LGBT+ de São Paulo, o UNAIDS Brasil agora promove o segundo momento do apoio às Paradas do Orgulho, disponibilizando um pacote composto por um material de comunicação e de monitoramento & avaliação para que as Paradas de outras cidades evidenciem o tema de HIV/AIDS em 2021, ano que marca os 40 anos do primeiro diagnóstico de AIDS no mundo. Clique aqui e acesse a página.

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