À medida que as mortes pela pandemia ultrapassam 1 milhão, sobreviventes de COVID-19 de 37 países se dirigem às lideranças da indústria farmacêutica para exigir uma Vacina Popular

Sobreviventes de COVID-19 de 37 países estão entre quase 1.000 pessoas que assinaram uma carta aberta às lideranças da indústria farmacêutica pedindo uma ‘Vacina Popular’ e tratamentos disponíveis para todas as pessoas— sem patentes. A carta chega na véspera de um evento paralelo de alto nível sobre a pandemia na Assembleia Geral da ONU em Nova York amanhã (30 de setembro).

Entre as pessoas que assinaram estão 242 sobreviventes de COVID-19 da África do Sul à Finlândia e da Nova Zelândia ao Brasil. O grupo também inclui 190 pessoas que perderam parentes para o vírus em 46 países e 572 pessoas com problemas de saúde subjacentes, o que significa que têm maior probabilidade de desenvolver formas graves de COVID-19 e maior risco de morrer por causa disso.

A carta diz: “Alguns de nós perdemos entes queridos devido a esta doença mortal. Alguns de nós próprios chegamos perto da morte. Alguns de nós continuamos a viver com medo de que contrair essa doença seja fatal para nós. Não vemos nenhuma justificativa de por que seu lucro ou monopólio significam que qualquer outra pessoa deveria passar por isso.”

A carta também indica que os laboratórios farmacêuticos estão “continuando seus negócios como de costume—defendendo monopólios enquanto se recusam a compartilhar pesquisas e conhecimento” e chama pelas lideranças da indústria para “garantir que as vacinas e tratamentos de COVID-19 cheguem a todas as pessoas que precisam, evitando monopólios, aumentando produção e compartilhamento de conhecimento.”

Os monopólios farmacêuticos restringirão a produção de vacinas eficazes e tratamentos a um pequeno número de fabricantes, evitando a produção em massa necessária para atender à demanda global. A carta solicita às empresas que licenciem imediatamente a tecnologia de vacinas e os direitos de propriedade intelectual para o Pool de Acesso à Tecnologia contra a COVID-19 da OMS (C-TAP).

Uma das signatárias, Dilafruz Gafurova, 43 anos, do Tajiquistão, disse: “Eu e meu marido adoecemos com esta doença. Só podíamos confiar em nós mesmos, pois os hospitais estavam lotados… Era muito difícil conseguir os medicamentos certos. Sou mãe de quatro crianças… Tive medo de deixá-las sozinhas neste mundo caso algo de ruim acontecesse comigo… Estou assinando esta carta para ajudar outras pessoas a conseguirem a vacina. Nem todas as pessoas ao redor do mundo podem receber esta vacina, pois simplesmente não podem pagá-la. Elas quase não [têm o suficiente para atender] às suas necessidades diárias.”

A carta foi organizada pela People’s Vaccine Alliance (Aliança da Vacina Popular, na tradução livre para o português), uma coalizão global de organizações e ativistas unidos pelo objetivo comum de fazer campanha por uma vacina popular contra a COVID-19, baseada no conhecimento compartilhado e que esteja disponível gratuitamente para todas as pessoas em qualquer lugar.

Amanhã, na Assembleia Geral da ONU, Bill Gates e o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, estarão entre outras figuras importantes que discutem o acesso às vacinas. Até agora, as nações ricas não conseguiram exercer pressão sobre as empresas farmacêuticas para compartilhar tecnologia e maximizar o fornecimento de vacinas e tratamentos bem-sucedidos em todo o mundo.

Heidi Chow da Global Justice Now, membro da People’s Vaccine Alliance, disse: “As empresas farmacêuticas precisam prestar atenção nas demandas de pessoas de todo o mundo que experimentaram o medo e a devastação da COVID-19. A indústria não pode bloquear seus ouvidos a essas vozes, mas deve responder imediatamente, encerrando seus monopólios e se comprometendo a compartilhar o conhecimento de manufatura. Essas ações são cruciais para expandir o fornecimento de vacinas, de modo que todos os países possam ter acesso a vacinas eficazes de maneira econômica.”

Winnie Byanyima, Diretora Executiva do UNAIDS, disse: “Com a AIDS, vimos que, quando os tratamentos foram encontrados, as pessoas mais ricas dos países mais ricos voltaram à saúde, enquanto milhões de pessoas nos países em desenvolvimento foram deixadas para morrer. Não devemos repetir o mesmo erro quando uma vacina contra a COVID-19 for encontrada. O direito à saúde é um direito humano—não deve depender do dinheiro que você tem no bolso ou da cor da sua pele para ser vacinado contra esse vírus mortal. A vacina deve ser um bem público global e gratuito para todas as pessoas.”


Uma vacina de COVID-19 acessível para todas as pessoas

Para legendas em português, ative o CC (closed caption).


A Aliança também está pedindo aos governos que o financiamento público dedicado para pesquisa e desenvolvimento de diagnósticos, vacinas e tratamentos de COVID-19 seja concedido a empresas farmacêuticas sem patentes sempre que essas se comprometam a compartilhar seus conhecimentos e tecnologia. Quando uma vacina eficaz estiver disponível, a Aliança pede que as doses sejam distribuídas de forma justa, com prioridade para profissionais de saúde e outros grupos de risco em todos os países.

Notas para os editores:

Leia o texto completo da carta (em inglês).

Os eventos paralelos de alto nível, intitulados “Acelerando o fim da pandemia COVID-19: ampliando novas soluções e tornando-as equitativamente acessíveis, para salvar vidas, proteger os sistemas de saúde e reiniciar a economia global”, acontecerão em 30 de setembro na 75ª sessão da Assembleia Geral da ONU em Nova York. Entre os participantes estão o Secretário-Geral da ONU, o Diretor-Geral da OMS, líderes de vários países, incluindo do Reino Unido e a África do Sul, e a Diretora Executiva do UNAIDS, Winnie Byanyima.

A carta aberta foi assinada por 941 pessoas. Eles incluem 242 sobreviventes de COVID-19 dos seguintes 37 países: Austrália, Azerbaijão, Bangladesh, Bélgica, Brasil, Burundi, Canadá, Dinamarca, Finlândia, França, Alemanha, Índia, Irlanda, Itália, Japão, Quênia, Líbano, Marrocos, Holanda , Nova Zelândia, Nicarágua, Paquistão, Filipinas, Polônia, Portugal, República da Macedônia do Norte, Rússia, Senegal, Eslovênia, África do Sul, Espanha, Suécia, Tajiquistão, Uganda, Reino Unido, EUA e Zâmbia. Algumas pessoas se enquadraram em mais de uma categoria e uma lista das pessoas signatárias está disponível mediante solicitação. A carta foi enviada às empresas farmacêuticas responsáveis pelas 11 vacinas candidatas que estão atualmente em testes de Fase 3.

A People’s Vaccine Alliance é uma coalizão de organizações e ativistas unidos pelo objetivo comum de fazer campanha por uma ‘vacina popular’ contra a COVID-19 que seja baseada no conhecimento compartilhado e esteja disponível gratuitamente para todas as pessoas em qualquer lugar. Um bem comum global. É coordenado pela Oxfam e UNAIDS e seus membros incluem Frontline AIDS, Global Justice Now, Centro Internacional Nizami Ganjavi, STOPAIDS, Wemos e o Centro Yunus. Mais de 140 líderes mundiais, ex-líderes e economistas pediram aos governos que se unissem em torno de uma vacina popular contra a COVID-19.

No início deste mês, uma análise da Oxfam revelou que um pequeno grupo de nações ricas, representando apenas 13 por cento da população mundial, já comprou mais da metade (51 por cento) das doses futuras das principais vacinas candidatas COVID-19.

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