“Os funcionários da clínica são muito amigáveis. Eu sou uma paciente antiga, todos me conhecem muito bem”

Algumas vezes é melhor ir aonde todos não sabem seu nome, mas você se sente bem-vindo da mesma maneira. É assim que funciona para muitas profissionais do sexo e homens que fazem sexo com outros homens (HSH) na Namíbia, que suportam diariamente o peso da crítica, repulsa e estigma, em todos os aspectos de suas vidas.

Como resultado, esses homens e mulheres evitam buscar o acesso a serviços essenciais de saúde, assim como o teste e o tratamento para o HIV, a Profilaxia Pré-Exposição (PrEP), camisinhas, lubrificantes e contraceptivos. De acordo com o primeiro estudo integrado de vigilância biocomportamental (IBBSS, na sigla em inglês), em 2014, entre os HSH na Namíbia, a prevalência do HIV foi estimada em 10,2%, em Keetmanshoop, 7,1% em Oshakati, 10,1% em Swakopmund/Walvis Bay e 20,9% na capital de Windhoek.

A estimativa de prevalência do HIV entre os HSH em Oshakati e Swakopmund/Walvis Bay aproxima-se da população em geral de homens adultos nas regiões vizinhas de Oshana e Erongo, calculada pela Pesquisa Demográfica e de Saúde da Namíbia, em 2013.

A prevalência do HIV entre os HSH em Keetmanshoop foi levemente inferior à da população em geral de homens adultos na região de Karas. Enquanto a prevalência do HIV entre os HSH em Windhoek foi quase duas vezes maior do que entre homens adultos da população em geral na região de Khomas.

Cuidados livres de julgamentos

Em 2018, a Associação de Planejamento Familiar da Namíbia (NAPPA, na sigla inglês), com o apoio do Fundo de Populações das Nações Unidas (UNFPA) da Namíbia, convocou várias reuniões de advocacy com os principais parceiros, com o objetivo de estabelecer um centro de acolhimento nos escirtórios da Out Right Namibia. A organização trabalha com a comunidade de lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros e intersexuais (LGBTI), que tem como objetivo buscar o avanço dos direitos, interesses e expectativas da comunidade LGBTI no país.

Tanto o centro de acolhimento, quanto a clínica NAPPA Okuryangava, tinham horários de trabalho flexíveis para permitir que a população-chave tivesse acesso aos serviços de saúde sexual e reprodutiva e HIV em horários convenientes. Também envolvia abrir a clínica aos sábados para permitir que a população-chave acessasse aos serviços sem medo do estigma e discriminação.

Todos os prestadores de serviços e funcionários do centro e da clínica foram treinados e sensibilizados sobre a importância da prestação de serviços de qualidade e livre de julgamentos para a população-chave. Os funcionários da Out Right Namibia também foram mobilizados para criar conscientização e informações sobre serviços que estão sendo prestados no centro e na clínica.

Experiência prazerosa

“Eu tive uma experiência prazerosa visitando a NAPPA. Como uma trabalhadora do sexo, é importante que eu me sinta confortável e vá a uma clínica livre de julgamentos. A NAPPA abriu as portas para mim e me sinto em casa. Não há complicações aqui, pois os serviços são gratuitos e eu prefiro esta clínica em relação aos hospitais locais”, disse a trabalhadora do sexo, Martha Keto (nome fictício).

Keto, 30, trabalha como profissional do sexo há quase 12 anos e tem recebido o tratamento da PrEP na clínica desde Outubro de 2017. “ Eu venho regularmente para realizar os testes e para o tratamento da PrEP, que me mantém protegida contra o HIV. O teste que recebo aqui não só me mantém atualizada sobre o meu estado sorológico para o HIV e ISTs, cpmo me dá um panorama da minha saúde em geral. Eu me informo sobre várias questões de saúde, incluindo o estado do meu fígado, e as enfermeiras também são capazes de informar se meu consumo de álcool está alto”, disse ela.

“Os funcionários da clínica são muito amigáveis. Eu sou uma cliente antiga, todos me conhecem muito bem. Eu recomendaria os serviços da NAPPA às colegas que também são trabalhadoras do sexo. Suas portas estão sempre abertas para nós, mesmo durante os finais de semana, e podemos procurar a clinica se for necessário. Há um grande número de trabalhadoras do sexo na Namíbia e eu espero que os serviços prestados pela NAPPA possam ser divulgados para que mais trabalhadoras do sexo fiquem informadas sobre os serviços gratuitos que são oferecidos aqui ”, disse ela.

Os sentimentos de Keto são compartilhados por Cinton Nati e Gideon Markus, (nomes fictícios), ambos homens homossexuais que são atendidos na clínica NAPPA.

“Se não fosse pelo pessoal amigável da clínica NAPPA e seu constante apoio e incentivo, eu não teria visitado a clínica como recomendado pela enfermeira ”, disse Nati. Ele disse que isso tornou mais fácil desenvolver um relacionamento pessoal com a equipe da clínica, porque eles foram muito encorajadores e, como resultado, ele foi capaz de ver grandes melhorias, não só em sua saúde, mas também na sua confiança.

Antes de visitar a NAPPA, Nati teve dificuldades emocionais e mentais associadas ao diagnóstico recente de HIV. Como resultado, muitas vezes ele sentia falta de suas consultas porque achava difícil aceitar a realidade de ser diagnosticadao com HIV.

“Desde a primeira vez, eu e meu parceiro fomos à clinica NAPPA, tanto na Out Right Namibia como na Okuryangava, e estamos sendo muito bem tratados. A equipe fez de tudo para nos fazer sentir seguros. Eu tive sessões de aconselhamento para ter certeza que estou bem, verificar se a medicação não está tendo nenhum efeito no meu corpo e para que eu permaneça saudável. A equipe das clínicas também verifica regularmente se entendemos como cuidar de nós mesmos e se temos uma vida sexual saudável ”, disse Markus.

“Toda vez que visitávamos a clínica em Okuryangava, a irmã Fungai Bhera (Enfermeira sênior registrada), primeiro disponibilizava um tempo para conversar conosco sobre como estávamos. Isso pode soar como uma coisa pequena para os outros, mas para mim significa muito, pois eu sei que ela se preocupa conosco, que estou sendo cuidado e estou em boas mãos ”, disse Van Den Berg.

Ele aludiu: “A comunidade LGBTI na Namíbia nunca teve o apoio adequado dos líderes de nosso país e, como resultado, ainda há muitas pessoas LGBTI que são discriminadas e vivem com medo de suas comunidades, já que não possuem os mesmos direitos legais. Portanto, vivemos vidas muito secretas, às vezes até vidas duplas. Eu acho que são essas vidas secretas que tornam fácil para as pessoas LGBTI, aterrissarem em situações em que são altamente vulneráveis à infecções pelo HIV e outras infecções sexualmente transmissíveis.”

Mais populações-chave buscando o acesso a serviços

Em 2018, um total de 523 pessoas de populações-chave foram alcançados com serviços de saúde sexual e reprodutiva nos dois locais de antedimento. Isso incluiu 233 profissionais do sexo, 188 homens que fazem sexo com homens, 70 caminhoneiros e 32 mulheres que fazem sexo com mulheres. Um total de dez eventos de divulgação foram realizados visando populações-chave em vários hotspots de Windhoek.

O pacote de serviços abrangentes fornecido nos dois locais incluiu: testagem e aconselhamento para o HIV—e aqueles que tiveram resultado positivo foram imediatamente inscritos para tratamento; serviços de PrEP—os que testaram negativo foram aconselhados e informados sobre os serviços de PrEP, e os que concordaram foram inscritos no serviço; serviços de planejamento familiar—incluindo preservativos; triagem e tratamento de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs); e educação e informação relacionada com a saúde sexual e reprodutiva, HIV e violência baseada em gênero.

*Essa história foi publicada originalmente pelo UNFPA (em inglês)

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