As redes de jovens estão salvando vidas

Os jovens desempenham um papel essencial na criação de demanda, nas relações com o cuidado e na utilização de serviços para o HIV e serviços de saúde e direitos sexuais e reprodutivos. A conclusão é de um estudo realizado pela empresa britânica de interesse comunitário e caritativo Watipa e encomendado pelo UNAIDS e pelo PACT, a coalizão de mais de 80 organizações e redes voltadas para jovens que trabalham para promover a saúde e os direitos sexuais e reprodutivos e alcançar o fim da AIDS até 2030.

O relatório que apresenta os resultados, intitulado Young people’s participation in community-based responses to HIV: from passive beneficiaries to active agents of change (A participação dos jovens nas respostas comunitárias ao HIV: de beneficiários passivos a agentes ativos da mudança, na tradução livre para o português), mostrou que os jovens, particularmente aqueles que servem de modelo e que são lideranças que vivem com o HIV, desempenham um papel fundamental na facilitação do acesso ao tratamento do HIV e na retenção nos cuidados.

Os resultados mostraram que o apoio prestado pelos jovens aos seus pares tem um efeito positivo na adesão à terapia antirretroviral, no processo de revelação do estado sorológico e na vivência positiva com o HIV. Detalhes sobre os tipos de atuação mostram que os jovens estão ativamente envolvidos no apoio psicossocial entre pares, nas consultas entre pares, nos processos de engajamento a políticas, na mobilização de pares em torno de campanhas e projetos específicos e no acesso a hospitais e cuidados apoiados por pares.

Os jovens, incluindo os de populações-chave e os que vivem com o HIV, também desempenham um papel fundamental na prevenção primária do HIV, nos testes e diagnósticos precoces. A educação entre pares, a sensibilização e o envolvimento da comunidade são áreas sobre as quais os jovens estão informando e nas quais estão influenciando seus pares. Em alguns exemplos, os jovens que trabalham como apoiadores e voluntários de pares prestaram serviços de testagem e aconselhamento sobre o HIV, distribuíram preservativos ou trabalharam em conjunto com assistentes de saúde da comunidade.

Cerca de 62% dos indivíduos que participaram da pesquisa, eram membros de uma organização de jovens na resposta ao HIV e indicaram que eles próprios prestam serviços de HIV diretamente aos jovens. Estes serviços foram concebidos para beneficiar e alcançar a população jovem como os grupos focais. Os serviços prestados incluem informação sobre saúde e direitos sexuais e reprodutivos (51%), apoio de pares (50%), apoio psicossocial (42%), promoção e distribuição de preservativos (41%), apoio à adesão à terapia antirretroviral (32%) e aconselhamento e testagem do HIV (30%).

Muitas das organizações pesquisadas ofereceram serviços integrados, incluindo encaminhamentos, prevenção, testes e tratamentos de outras infecções sexualmente transmissíveis (38%), tuberculose (28%) e/ou hepatite B e C (22%).

Como um dos entrevistados mencionou, “é fácil disseminar o conhecimento entre nós, porque se [eu] fizer parte disso, então é mais fácil falar sobre isso com alguém da minha idade”.

Os dados primários foram coletados através de três métodos: 1) uma pesquisa quantitativa online com 32 perguntas que foram oferecidas em cinco idiomas (árabe, inglês, francês, russo e espanhol); entrevistas entre pares, que foram qualitativas semi-estruturadas conduzidas por jovens em inglês ou em seu idioma local em seis países diferentes; e entrevistas com informantes-chave, que foram entrevistas qualitativas semi-estruturadas conduzidas em inglês via Skype por dois jovens consultores líderes da equipe de pesquisa. O número total de participantes foi de 143, com idades entre 20 e 29 anos.

O papel da população jovem nas respostas comunitárias ao HIV é vital para alcançar e manter resultados positivos na saúde no contexto da epidemia. Um informante-chave disse que “os jovens que vivem com o HIV estão mudando o jogo na comunidade. Eles são educadores de pares, mentores … apoiam outros jovens nas unidades médicas para orientar sobre os serviços, de modo que o processo se torne mais rápido para eles enquanto recebem os serviços. Muitos jovens estão envolvidos em advocacy onde podem falam pelas vozes dos jovens.”

No entanto, a falta de remuneração adequada ou proporcional para o papel dos jovens na criação da demanda e na criação de vínculos com os serviços de HIV parece ser uma barreira crítica para o envolvimento dos jovens de forma eficaz, significativa sustentável . Outras barreiras que inibem sua participação incluem a falta de financiamento para apoio institucional, a falta de capacidade ou apoio para o conhecimento necessário para participar plenamente das discussões técnicas, e a falta de ferramentas e recursos adaptados para apoiar a participação em diferentes processos e mecanismos.

O estudo também fornece 13 recomendações de jovens que participaram na pesquisa e é direcionado às autoridades governamentais, entidades das Nações Unidas, doadores, organizações da sociedade civil e outras partes interessadas na resposta ao HIV.

Estas recomendações incluem a necessidade de envolver os jovens na criação, planejamento e prestação de políticas, programas e serviços sobre o HIV, bem como de reconhecer o papel essencial que a população jovem tem na implementação da prestação de serviços aos seus pares.

O estudo faz parte da agenda #UPROOT (desraigar, na tradução livre para o português), uma agenda política global liderada por jovens baseada nos princípios de equidade, inclusão e solidariedade, que visa acabar com a AIDS até 2030 e promover a saúde e os direitos sexuais e reprodutivos, enfrentando barreiras como a intolerância e a exclusão, que comprometem a saúde dos jovens.

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