Projeto africano ajuda mulheres e meninas a falar sobre sexualidade

O clube Rise (nome original do projeto) está ajudando meninas adolescentes e mulheres jovens a iniciarem conversas sobre HIV e saúde, direitos sexuais e reprodutivos.

Khayelitsha é um dos maiores municípios da África do Sul, situado em Cape Flats, na Cidade do Cabo, África do Sul.

Como em muitas outras comunidades no país, mulheres e meninas nos assentamentos semi-informais lidam diariamente com a desigualdade de gênero, o que as coloca em maior risco de infecção pelo HIV.

A desigualdade de gênero é uma barreira para que adolescentes e jovens tenham acesso a serviços de HIV e de saúde sexual e reprodutiva, além de educação sexual abrangente. Também coloca as meninas em maior risco de violência baseada em gênero.

“Acontecem muitos crimes. A comunidade não está do lado das meninas. A comunidade acredita que as mulheres devem se submeter aos homens. Às vezes é difícil falarmos”, disse uma jovem que faz parte do clube Rise em Khayelitsha.

“Nós nos diminuímos para nos encaixar na caixa em que a comunidade nos coloca. Meninas são estupradas, sequestradas… há muita violência. ‘Você pode fazer isso, você não pode fazer aquilo, te dizem o que fazer”, conta.

Para a maioria das meninas, é difícil conversar com pais, professores ou membros da família sobre sexo, sexualidade, saúde e direitos sexuais e reprodutivos. Por serem sexualmente ativas, mulheres e meninas enfrentam o estigma e discriminação de enfermeiras em ambientes de assistência à saúde, quando buscam por serviços de saúde sexual e reprodutiva.

Ainda que muitos países da África Oriental e Austral tenham assinado o Compromisso Ministerial sobre educação sexual abrangente e serviços de saúde sexual e reprodutiva para adolescentes e jovens na África Oriental e Austral, e tenham algum tipo de política sobre educação sexual abrangente, a implementação ainda é desigual.


Mulheres jovens estão em maior risco de infecção pelo HIV e outras infecções sexualmente transmissíveis do que seus pares do sexo masculino ou mulheres mais velhas.

Na África Oriental e Austral, um quarto das 800.000 novas infecções pelo HIV em 2017 ocorreu em meninas e mulheres entre 15 e 24 anos. Dos 2,17 milhões de adolescentes e jovens entre os 15 e os 24 anos na África Oriental e Austral que vivem com HIV, 1,5 milhão são meninas e mulheres.

Das 277.000 novas infecções por HIV na África do Sul em 2017, 77.000 estavam entre meninas e mulheres com idades entre 15 e 24 anos, mais que o dobro do que seus pares do sexo masculino (32.000).

O conhecimento sobre prevenção do HIV varia de uma alta de 64,5% em Ruanda a uma baixa de 20,37% em Comores, com a média de 45,8% na África do Sul.

Em alguns países da região, meninas e mulheres podem se casar, por lei, ainda muito novas. Os casamentos precoces estão associados à falta de autonomia corporal, carência de estudo devido ao abandono escolar, falta de independência econômica e violência baseada em gênero.

O sexo transacional também contribui para a disparidade de gênero na infecção pelo HIV entre jovens da África subsaariana.

Evidências mostram que meninas adolescentes e mulheres jovens que praticam o sexo transacional estão associadas a uma série de fatores que podem aumentar o risco de transmissão do HIV, incluindo abuso e violência, uso de álcool, múltiplos parceiros, falta de uso do preservativo e sexo intergeracional.


Clube Rise

O Rise é um clube para meninas adolescentes e mulheres jovens que busca construir coesão social, autoeficácia e resiliência ao permitir que meninas e mulheres (com idades entre 15 e 24 anos) tenham um espaço para apoiar umas às outras e realizar projetos na comunidade que ajudem a prevenir o HIV, além de reduzir o seu impacto e possibilitar escolhas mais seguras. Iniciado em 2014 pelo Instituto para a Justiça Social Soul City, é direcionado a jovens de 15 distritos africanos com altos índices.

O clube ajuda a atender às necessidades de meninas adolescentes e mulheres jovens em termos de construção da autoconfiança, as encoraja a se posicionar contra os males sociais, e as ajuda a tomar decisões sobre suas vidas.

“Os pais africanos não nos falam sobre sexo e temos vergonha de conversar com eles. Eu não conseguia falar com a minha irmã, então entrei no Rise e agora consigo falar com as garotas. Algumas são mais velhas do que eu e podem me aconselhar.” —Cinga

“Meus pais me ensinaram que a única maneira de ter conhecimento é fazendo perguntas. Quando entrei no Rise, nós perguntávamos no lugar das garotas que não podiam perguntar, tornando a vida delas mais fácil.” —Okuhle

“Eu não podia falar com ninguém em casa. E então eu me tornei a pessoa mais tagarela. O Rise me ajudou a lidar com a baixa auto-estima.” —Lisa


Meninas adolescentes e mulheres jovens na África Oriental e Austral precisam de leis, políticas e programas que atendam às suas necessidades. Estas incluem programas adaptados e focados em serviços de saúde sexual e reprodutiva, educação sexual abrangente, prevenção de gravidez indesejada, violência baseada em gênero e HIV.

Meninas e mulheres devem ser informadas pelos princípios de igualdade de gênero e direitos humanos e também devem abordar outras questões socioeconômicas, como pobreza e desemprego.

Ter essas políticas e programas não só resultará em resultados positivos para a saúde, mas dará às meninas adolescentes e às mulheres jovens a oportunidade de viver suas vidas com liberdade e dignidade.

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