Semana de prevenção marca as comemorações do dezembro vermelho em Salvador (BA)

A primeira semana de dezembro em Salvador (BA) foi marcada por diversas ações de prevenção e sensibilização sobre HIV/AIDS. A chamada Semana Vermelha de Luta Contra o HIV/AIDS da capital baiana foi resultado de um trabalho conjunto entre as Secretarias de Educação (SEC) e da Saúde (Sesab) do Estado, a Secretaria Municipal de Saúde de Salvador (SMS), o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (UNAIDS), a Fundação Pedro Calmon e as organizações locais da sociedade civil.

A Semana Vermelha teve como tema central a Zero Discriminação, iniciativa global do UNAIDS que busca promover a tolerância e o respeito à dignidade de todas as pessoas, incentivando a disseminação de informações sobre o HIV, sobre a prevenção e os direitos que todas as pessoas têm de acesso a serviços de saúde.

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Vinicius Santos, Ariane Senna, Javier Angonoa, Rosana Sousa, Miralba Silva e Binho Lima na atividade de testagem no último dia da Semana Vermelha.

 

“O problema da discriminação é grave, pois afasta as populações mais vulneráveis dos serviços de prevenção e cuidados para o HIV,” disse Javier Angonoa, consultor do UNAIDS na Bahia. “É de fundamental importância tratar a prevenção ao HIV e à AIDS no âmbito escolar, pois é entre os jovens que a epidemia está crescendo nos dias de hoje. Por isso, o foco de nossas atividades foi sobre a juventude de Salvador e da Região Metropolitana.”

Javier Angonoa, consultor do UNAIDS Brasil para a inicitiava Laços SociAids, apresenta o Grupo de Teatro Jovem do GAPA Bahia. Foto: Genilson Coutinho/UNAIDS Brasil

Como parte das atividades, a Sesab, através do Centro Estadual Especializado em Diagnóstico, Assistência e Pesquisa (Cedap), promoveu uma caminhada com os profissionais desde a sede do órgão, no bairro do Garcia, até o bairro do Campo Grande. Durante o trajeto, eles distribuíram preservativos e folders explicativos sobre o HIV. Além disso, a Sesab, em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde, realizou atividades de prevenção e testagem de HIV e sífilis nas bibliotecas Central (nos Barris) e Thales de Azevedo (Costa Azul).

Dentro da programação, uma parceria com o Instituto Beneficente Conceição Macedo (IBCM), promoveu, no Porto da Barra, atividades de prevenção e testagem para o HIV com fluido oral – ferramenta aprovada recentemente pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e com perspectiva de venda em farmácias num futuro próximo. Além disso, junto com a Secretaria Estadual de Educação, a capital baiana contou também com uma Oficina de Prevenção ao HIV, destinada a jovens e professores da rede pública estadual, no Instituto Anísio Teixeira.

Engajamento juvenil na Semana de Prevenção

Cerca de dez alunos do curso de Relações Internacionais da Universidade UNIJORGE apoiaram essas atividades como voluntários. Ao lado deles, alguns jovens que participaram dos Cursos de Formação de Jovens Lideranças – feito em parceria entre UNAIDS, UNICEF, UNESCO e Departamento de DST/AIDS e Hepatites Virais do Ministério da saúde – estiveram entre as equipes da Semana Vermelha, à frente de muitas das ações como esta do Porto da Barra. Entre os relatos mais marcantes está o da percepção de que existe uma demanda grande entre os jovens por mais conhecimento sobre o HIV e sobre as opções de testagem disponíveis.

Na foto, parte da equipe de organizadores, constituída por profissionais do CEDAP, alunos do curso de relações internacionais da UNIJORGE e jovens ativistas, da Semana Vermelha se reúne. Foto: Genilson Coutinho/UNAIDS Brasil

“Ter os jovens à frente de trabalhos tão importantes como esse nos ajuda a falar de uma coisa tão séria mas de maneira descontraída, o que despertou e desperta a curiosidade dos próprios jovens para que se aproximem, conheçam e participem dessas ações”, diz a graduanda em psicologia Ariane Senna, uma das jovens lideranças do Curso realizado pelo UNAIDS e parceiros. “Isso ficou muito claro na ação que fizemos na orla de Salvador (06/12). A demanda foi grande, faltou foi insumos par atender a todos”, conta Ariane, que hoje atua como ativista social e é filiada a organizações como a Associação de Travestis e Transexuais em Ação (ATRação) e a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA). “O mais importante foi perceber o quanto eu posso e pude ocupar esses espaços enquanto mulher transexual com boa aceitação e respeito do público.”

Grupo de Teatro Jovem do GAPA Bahia leva mensagens de promoção dos direitos humanos ao público durante a semana de atividades. Foto: Genilson Couto/UNAIDS Brasil

Para o graduando em medicina Vinícius dos Santos, também parte do grupo de jovens lideranças formadas pelo UNAIDS, viabilizar o engajamento dos jovens nessas ações constitui uma perspectiva inovadora e estratégica porque, além de potencializar a vontade de mudança, inerente à juventude, também garante uma prevenção mais eficaz por meio da atuação em pares.

“Vivemos um preocupante panorama da epidemia de HIV, principalmente pela grande incidência entre jovens de 15 a 24 anos. Precisamos chegar mais próximo dessa população vulnerável, buscando um diálogo horizontal, de igual para igual”, diz Santos, que também é ativista social engajado na resposta ao HIV e à AIDS. “Vislumbrar os olhares fixos e atentos de adolescentes, jovens e adultos nos bate-papos – conduzidos de forma leve, descontraída, mas ricos em aprendizagem – são experiências que revigoram o desejo de mudança e que reafirmam o sentido da vida.”

Dados locais sobre HIV e AIDS

Em 2014, Salvador registrou um aumento de 88% nos casos de sífilis em relação ao ano anterior. A doença é vista pelos especialistas como um termômetro importante sobre o uso ou não do preservativo nas relações sexuais e o grau de exposição das pessoas ao HIV.

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Caminhada do Centro Estadual Especializado em Diagnóstico, Assistência e Pesquisa (CEDAP), em Salvador, durante o Dia Mundial de Luta contra a AIDS. Foto: Genilson Coutinho/UNAIDS Brasil

Dados epidemiológicos no estado mostram que, em 2015, não houve houve aumento significativo de casos notificados de HIV/AIDS entre jovens. “Mas no ano passado, em relação a 2013, as notificações dobraram”, conta Nilda Nunes Ivo, coordenadora do programa estadual de DST/AIDS e Hepatites Virais da Bahia. “Mas é importante lembrar que parte deste aumento nos casos notificados se deve ao também ampliação dos serviços de testagem, com iniciativas como o Fique Sabendo e Proteja o Gol”, diz Nilda.

Salvador está entre as cidades consideradas prioritárias na resposta à epidemia de AIDS no Brasil, principalmente por questões culturais e socioeconômicas – como renda, grandes desigualdades sociais, enfrentamento do racismo, violência contra populações-chave, entre outros. Assim como em todo o Brasil, a cidade tem registrado aumento nas taxas de infecções entre jovens.

Ao longo dos últimos anos, com apoio do UNAIDS e seus copatrocinadores, a cidade tem sido palco de diversas ações como parte desta resposta à epidemia. “Logo depois que fizemos ações importantes de testagem no Carnaval e na Copa do Mundo, com a iniciativa Proteja o Gol, do UNAIDS, percebemos o gargalo em relação à equipe médica. Tivemos filas de espera de seis meses e isso pressionou a gestão para a contratação de mais pessoas”, lembra Flávia Santos Guimarães, chefe do setor de acompanhamento das DST/AIDS e Hepatites Virais de Salvador. “Agora consgeuimos aumentar o quadro e preparar todas as estruturas para a oferta mais adequada destes serviços.”

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Atividades de conscientização e sensibilização sobre o HIV/AIDS, em Salvador, Bahia. Foto: Genilson Coutinho/UNAIDS Brasil

Para as duas gestoras, um dos grandes obstáculos é levar a informação correta à população, especialmente aos jovens. “Nós percebemos muitos estudantes universitários – da área da saúde! – que desconheciam que poderiam fazer o teste rápido sem recomendação médica. É preciso haver uma maior divulgação”, alerta Nilda. Ela explica que para o teste rápido não há necessidade de requisição médica e qualquer pessoa pode e deve procurar unidade mais  próxima de sua casa. “É preciso vencer o medo e o preconceito em relação à testagem e ao HIV. E, além disso, temos que levar estas informações da melhor forma possível aos jovens. É triste dizer isso, mas temos a impressão de que eles não acreditam mais que a AIDS seja uma ameaça para suas vidas.”

Informação e Prevenção

Segundo a chefe do setor de acompanhamento das DST/AIDS e Hepatites Virais de Salvador, as ações da Semana de Prevenção tiveram objetivo de mostrar aos soteropolitanos que grande parte da rede de serviços de saúde está pronta para acolher a população com testes rápidos, aconselhamento e encaminhamento adequado em casos de diagnósticpo positivo para o HIV, sífilis e hepatites.

“Ao todo, temos 117 unidades de saúde no município e quase todas – 110 delas – oferecem o teste rápido, por exemplo”, explica Flávia. “Nossa meta é começar 2016 com 100% destas unidades oferecendo a testagem na rede básica. Mas a procura é pequena, apesar dessa ampliação da oferta destes serviços. Por isso a semana de prevenção tem este papel.”

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Durante a Semana Vermelha, show beneficente SoliedariedAIDS é organizado pela IBCM e Dion Santyago. Foto: Genilson Coutinho/UNAIDS Brasil

A coordenadora do programa estadual de DST/AIDS e Hepatites Virais conta que uma mudança cultural e comportamental precisa acontecer nesta área de prevenção. Segundo ela,  muitas pessoas ainda procuram apenas o serviço especializado, conhecido como CEDAP – Centro de Diagnóstico, Assitência e Pesquisa – para os cuidados mais básicos. E um dos principais motivos é o medo do preconceito e da discriminação que possam sofrer.

“Se for para uma unidade de saúde próxima de casa, a pessoa fica com medo de achar que algum conhecido vai saber que você está com HIV”, conta Nilda. “É muito importante quebrarmos estes obstáculos e mostrar a todas as pessoas que estes serviços estão disponíveis.”

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