Cientistas defendem estratégias inovadoras para atingirmos a meta 90-90-90

Modelos inovadores de prestação de serviços estão alcançando resultados na cascata de tratamento do HIV que se aproximam ou, até mesmo, ultrapassam a meta 90-90-90, proposta pelo UNAIDS e assumida por diversos países para a Aceleração da Resposta pelo fim da epidemia de AIDS. Os principais pesquisadores do tema destacam testes clínicos realizados em países muito afetados pela epidemia na África subsaariana, incluindo Botsuana, Quênia, Malawi, África do Sul, Suazilândia, Uganda e Zâmbia.

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Foto: DDAHV/Facebook

A professora Diane Havlir, da Universidade da Califórnia, em San Francisco (EUA), destaca os resultados alcançados até agora pela Pesquisa da África Oriental Sustentável para a Saúde Comunitária (conhecida pela sigla em inglês SEARCH). Os testes foram realizados em mais de 30 comunidades rurais no Quênia e em Uganda.

Com a participação de mais de 334 mil pessoas, o estudo está avaliando um programa de componentes múltiplos, que inclui a oferta de testagem para o HIV durante campanhas sobre diversas outras doenças, mas com foco nas comunidades. Isso tem ajudado a conectar indivíduos soropositivos ao início imediato da terapia antirretroviral.

Em termos populacionais, o programa alcançou 90% de diagnósticos entre as pessoas vivendo com HIV, ou seja, 90% delas agora conhecem seu estado sorológico positivo para o vírus da AIDS. Entre elas, mais de 90% das pessoas em Uganda e 83% no Quênia estão recebendo terapia antirretroviral. Em 24 semanas, 92% dos participantes do estudo, que iniciaram a terapia antirretroviral, alcançaram a supressão viral.

“Estes resultados excepcionais dos ensaios clínicos mostram, mais uma vez, como a inovação está impulsionando o progresso na resposta à AIDS”, afirmou o Diretor Executivo do UNAIDS, Michel Sidibé. “Os resultados demonstram que a meta 90-90-90 é mais do que um sonho. É totalmente viável.”

Foto: DDAHV/Facebook

Também encorajadores, embora preliminares, são os resultados do estudo PopART. De acordo com Richard Hayes, da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, trabalhando em 21 comunidades, o estudo está avaliando um pacote de prevenção combinada ao HIV que inclui repetidas rodadas de testes de HIV a nível comunitário e início imediato da terapia antirretroviral para todas as pessoas que são diagnosticadas soropositivas.

Entre os mais de 115 mil membros das comunidades participantes do estudo, 90% de todos os homens vivendo com HIV e 92% de todas as mulheres vivendo com HIV estão cientes de seu estado sorológico, desde a implementação do programa PopART. Entre as pessoas com um diagnóstico positivo de HIV, 62% dos homens e 65% das mulheres recebem terapia antirretroviral, salientando a necessidade de reforçar ainda mais o acesso aos cuidados para pessoas vivendo com vírus. Os dados sobre taxas de supressão viral entre participantes do ensaio estarão disponíveis no próximo ano.

Max Essex, da Escola de Saúde Pública da Universidade de Harvard, destaca os resultados da linha de base para o Protocolo de Prevenção Combinada de Botsuana. Essex e seus colegas descobriram que 79% de todas as pessoas vivendo com HIV em Botsuana conheciam o seu estado sorológico, 86% dos adultos diagnosticados com HIV recebiam terapia antirretroviral e 96% das pessoas recebendo terapia antirretroviral tinham alcançado a supressão viral.

Resultados comparativamente impressionantes foram alcançados por um programa da ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF) no Distrito de Chiradzulu, no Malawi, segundo David Maman. Em Chiradzulu, 77% de todas as pessoas vivendo com HIV conhecem seu estado HIV, 84% das pessoas com um diagnóstico de HIV recebem terapia antirretroviral e 91% das pessoas recebendo a terapia antirretroviral alcançaram carga viral indetectável.

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Membros do Grupo de Comunidade ARV (CAG) seguram seus medicamentos restantes. Em um CAG, membros se reúnem para contar seus comprimidos no final do mês, como um meio para verificar se todos tomaram seus remédios regularmente. Foto: Miguel Cuenca/MSF

François Dabis, da Escola de Saúde Pública de Bordeaux, também descreve os resultados preliminares de um outro estudo conduzido no distrito Hlabisa em KwaZulu-Natal, na África do Sul: é uma iniciativa de testagem-tratamento que inclui rodadas de seis meses de testes a nível comunitário e estabelecimento de locais de tratamento antirretroviral em todas as comunidades envolvidas na pesquisa.

Entre mais de 26 mil pessoas nas comunidades de estudo, 85% conhecem o seu estado sorológico. Entre as pessoas diagnosticadas com HIV e que foram alcançados pelo programa, 86% recebem terapia antirretroviral. Os resultados do estudo indicam que o acesso aos cuidados permanece abaixo do ideal e continua a ser um importante foco do trabalho de inovação que está sendo realizado no local.

Os pesquisadores destes estudos realizados em diferentes regiões da África são unânimes ao enfatizar a importância e o valor de promover o envolvimento e a colaboração com as comunidades locais no desenvolvimento de abordagens para programas adaptados às necessidades e circunstâncias locais. A maioria dos estudos também tem adotado abordagens multidisciplinares para o desenvolvimento, monitoramento e avaliação de programas, envolvendo cientistas sociais, economistas e representantes das comunidades, bem como clínicos e bioestatísticos.

Os resultados dos estudos foram apresentados em uma oficina realizada pelo Centro British Columbia de Excelência em HIV/AIDS e pela Divisão de AIDS da Universidade de British Columbia, antes da abertura da 8ª Conferência da Sociedade Internacional de AIDS em Patogênese, Tratamento e Prevenção do HIV, em Vancouver, no Canadá.

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