Cerimônia em Manaus marca lançamento da série ‘AMAZONAIDS: na fronteira de uma epidemia’, produzida por UNAIDS e Eder Content

A série de reportagens AMAZONAIDS: Na fronteira de uma epidemia foi lançada nesta sexta-feira (5/5) em cerimônia realizada na Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas, em Manaus. Resultado de uma parceria entre o UNAIDS Brasil e a rede de produção jornalística Eder Content, as reportagens—que marcam o lançamento da conta do UNAIDS Brasil na plataforma Medium—resgatam o histórico das ações do Plano Integrado da ONU de apoio à resposta à epidemia de AIDS no Amazonas (AMAZONAIDS), especialmente nas cidades de Tabatinga, Atalaia do Norte e Benjamin Constant, no Alto Solimões.

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A cerimônia de lançamento aconteceu no miniauditório da Assembleia Estadual Cônego Azevedo e contou com a presença de representantes da sociedade civil e do Grupo Gestor do AMAZONAIDS, além das seguintes autoridades: Georgiana Braga-Orillard, Diretora do UNAIDS no Brasil; Adele Benzaken, Diretora do Departamento de IST/AIDS e Hepatites Virais do Ministério da Saúde; Silvana Lima, Coordenadora Estadual de DST/AIDS do Amazonas;  Deputado Luiz Castro, da Frente Parlamentar Mista de enfrentamento e defesa dos direitos das pessoas com DST/AIDS e Tuberculose; e Jaime Nadal, Representante do UNFPA no Brasil.

“Esse projeto foi um resgate jornalístico, mas teve também o objetivo de deixar um registro do trabalho que foi fruto de uma grande parceria. O tipo de parceria que precisamos incentivar cada vez mais. No caso do AMAZONAIDS, essa parceria começou localmente, com as pesquisas e a expertise científica lideradas pela Dra. Adele, quando ela ainda era Diretora da Fundação Alfredo da Matta, expandindo-se para o estado, para o governo federal e para o âmbito internacional ao envolver o UNAIDS e suas 11 agências Copatrocinadoras”, disse Georgiana durante o lançamento. “Nenhuma instituição teria conseguido fazer isso sozinha e, ao final, o que vimos foi que todas as instituições saíram fortalecidas.”

Georgiana Braga-Orillard, Diretora do UNAIDS no Brasil, fala sobre como a parceria entre as instituições foi fundamental para a produção da série e webdocumentário AMAZONAIDS. Foto: Cleiton Euzébio/UNAIDS

“Tudo, quando você faz de uma forma dedicada, empolgada, envolvendo muitas pessoas de várias áreas, eu acho que é uma demonstração que, sim, é possível trabalhar numa região árdua, de difícil acesso”, disse Adele durante a cerimônia em Manaus. “Nós priorizamos a região do Alto Solimões desde 2004, então foram vários projetos por lá. Essa iniciativa, em especial fica marcada no meu coração.”

A parceria UNAIDS-Eder Content resultou também em um webdocumentário de cerca de 20 minutos, que resgata a história do AMAZONAIDS tendo como pano de fundo a história de Maria Paula, mulher trans peruana que cruzou a fronteira para buscar tratamento antirretroviral em Tabatinga (AM). O filme vai além das questões específicas da área de saúde e aborda também temas importantes para a resposta ao HIV na região, como a violência contra a mulher e questão dos direitos humanos, principalmente da população LGBTI+.

Autoridades locais e nacionais participaram da cerimônia de lançamento da série e webdocumentário AMAZONAIDS. Foto: Cleiton Euzébio/UNAIDS

Contexto de surgimento do AMAZONAIDS

Brasil foi o primeiro país em desenvolvimento a oferecer acesso universal e gratuito ao tratamento contra HIV/AIDS. O sucesso das ações de estabilização da taxa de detecção do HIV e a diminuição de mortalidade por AIDS no período, no entanto, não foram suficientes para cobrir a lacuna da epidemia em algumas localidades e entre algumas populações-chave do país. Neste contexto, surge a iniciativa do UNAIDS, em conjunto com seus 11 organismos da ONU Copatrocinadores, de criar programas em localidades consideradas críticas do ponto de vista da epidemia.

O programa na região do Alto Solimões era particularmente desafiador devido aos grandes obstáculos logísticos que a região oferece. O estigma e o preconceito em torno da população LGBTI+, de profissionais do sexo e de mulheres, somados à imensa diversidade cultural de seus povos e aos desafios de uma região de tríplice fronteira entre Brasil, Peru e Colômbia—como a alta criminalidade e o narcotráfico—, tornavam ainda mais difícil a realização de um programa dessa envergadura.

Curso de formação de jovens comunicadores, realizado pelo UNICEF no âmbito do AMAZONAIDS, sobre prevenção de infecções sexualmente transmissíveis, do abuso de álcool e drogas, bem como da violência contra a mulher. Foto: Cacalos Garrastazu/UNAIDS-Eder Content

“O  AMAZONAIDS veio para colocar luz sobre esses desafios e trazer todos os interlocutores para uma resposta conjunta ao HIV na região, disse Jaime Nadal, durante a cerimônia de lançamento da série de reportagens e webdocumentário sobre o Plano Integrado, em Manaus. “É importante investir na Região Norte do país, onde a promoção e atenção em saúde sexual e reprodutiva e a prevenção do HIV/Aids e outras IST são grandes desafios: há escassez de informações, dificuldade no acesso aos serviços, que são poucos e, muitas vezes, distantes, e as ações nem sempre estão adaptadas às necessidades locais. É preciso uma ação coordenada.”

A atuação do AMAZONAIDS na região do Alto Solimões foi também estratégica por ter conseguido trazer acesso e informação sobre saúde, direitos humanos e prevenção ao HIV e a outras ISTs para a maior concentração indígena do Amazonas. “Essa população indígena, antes do AMAZONAIDS, tinha muito pouco acesso a qualquer tipo de diagnóstico, tratamento e prevenção. Era uma população vulnerável sem acesso a nenhum tipo de programa”, destaca, em depoimento ao webdocumentário, Dra. Adele, uma das idealizadoras do Plano Integrado AMAZONAIDS quando ainda era Diretora da Fundação Alfredo da Matta (FUAM), em Manaus.

Caís de Tabatinga, a porta de entrada para o Alto Solimões. Foto: Cacalos Garrastazu/UNAIDS-Eder Content

Em 2015, segundo o Boletim Epidemiológico de HIV e AIDS do Ministério da Saúde, o Amazonas registrou uma taxa de detecção de casos de AIDS de 31,2 por 100.000 habitantes, a terceira maior para uma unidade da federação—atrás apenas do Rio Grande do Sul (34,7) e Santa Catarina (31,9). Contudo, enquanto a tendência nos dois estados da região Sul é de queda entre 2006 e 2015—de 11% e 17%, respectivamente—, no Amazonas, a situação a inversa: crescimento de 50%, acompanhado também de um crescimento de 45% no coeficiente de mortalidade por complicações relacionadas à AIDS.

“Estes dados evidenciam que, apesar dos avanços, ainda há muitos desafios a serem superados na região para garantir que os serviços de prevenção, testagem e tratamento alcancem todas as pessoas. Ainda há muito a ser feito também em termos de eliminação do estigma e da discriminação. Muitas pessoas deixam de fazer o teste ou o tratamento antirretroviral em suas comunidades por medo do preconceito. Por isso, ainda vemos índices altos de novas infecções e, infelizmente, muitos casos de mortes relacionadas à AIDS”, disse Georgiana.

As lições aprendidas e os desafios identificados dentro da cooperação firmada no âmbito do AMAZONAIDS serviram de base para o início de um outra importante iniciativa na região: a criação da Cooperação Interfederativa do Amazonas (Interfam), estabelecida em 2014 entre o Ministério da Saúde e a Secretaria de Saúde do Estado e Secretarias de Saúde dos municípios de Manaus, Tabatinga, Benjamim Constant e Parintins. O objetivo da Interfam é o de aprimorar a resposta à situação epidemiológica das DST/AIDS e hepatites virais no Amazonas. O foco está em ações de prevenção para populações vulneráveis, no aumento da capacidade e eficiência dos serviços de saúde, na expansão da oportunidade de acesso ao diagnóstico rápido e no aprimoramento da gestão.

Outras citações:

“Ao tornar público esse legado do AMAZONAIDS, evidenciando as lições aprendidas e os desafios que ainda precisam ser vencidos, queremos também prestar uma homenagem a todas as pessoas que, de uma forma ou de outra, contribuíram para o sucesso e para as conquistas acumuladas na resposta ao HIV na região do Alto Solimões.”

Georgiana Braga-Orillard,

Diretora do UNAIDS no Brasil.

“Foi uma das atividades mais prazerosas que eu já participei, e eu fico muito orgulhosa e agradecida pelo trabalho que o UNAIDS, em especial a Georgiana, fez em tentar registrar. É isso, tem que escrever e deixar isso registrado para que as pessoas não esqueçam, para que as pessoas acreditem que é possível sim trabalhar numa área de difícil acesso.”

Adele Benzaken,

Diretora do Departamento de IST/AIDS e Hepatites Virais do Ministério da Saúde

“A todo tempo Manaus recebe pessoas que vem do Alto Solimões e que não conseguem, permanecendo lá, ter o mínimo de condição de acolhimento na área de saúde, e não é diferente com as pessoas com HIV. Então é esse trabalho que o UNAIDS fez, é uma espécie de raio-x, de diagnóstico de como está a situação da contaminação, a situação do acolhimento, como vivem as pessoas que convivem com o HIV e o que está sendo feito e não está sendo feito para acolher, para evitar e, quando acontecer, ter de fato uma solução terapêutica digna, holística, que olhe o ser humano como todo e não de maneira mecanicística.”

Luiz Castro,

Deputado Estadual do Amazonas (REDE) e Presidente da Frente Parlamentar Mista de enfrentamento e defesa dos direitos das pessoas com DST/AIDS e Tuberculose

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